No dia em que escrevo este texto (15/11), é feriado. Estamos todos felizes e aproveitando o dia de folga. Mas o texto de hoje vai na contramão disso. O assunto de hoje não é feliz, é saudoso! Na última sexta-feira (dia 10), aos 53 anos e vítima de um câncer no ovário – diagnosticado em 15 de março de 2010 -, perdemos Márcia Martins Alves, mais conhecida como Márcia Cabrita.
Filha de imigrantes portugueses, nasceu em Niterói/RJ em 20 de janeiro de 1964. Iniciou sua carreira no teatro, onde conheceu os atores Luís Salem e Aloísio de Abreu, cujas parcerias seguiram por toda a sua carreira. Com eles, fez sucesso com o espetáculo Subversões, em 1990, que ganhou notoriedade pelas paródias de músicas de sucesso, como a “Meu Nome é Creuza”, versão de “Como uma Deusa”.
Na televisão, estreou na minissérie As Noivas de Copacabana, em 1992, como Adelaide, a irmã da personagem de Ana Beatriz Nogueira, uma das noivas do seriado. Entre 1993 e 1995, fez parte do elenco de Os Trapalhões, onde viveu diversos personagens.
Um dos rostos mais conhecidos do humor nas últimas décadas, a atriz deu vida à divertida, displicente, maliciosa, irônica, sexy e, ao mesmo tempo, desajeitada empregada Neide Aparecida do seriado humorístico Sai de Baixo, entre as temporadas dos anos de 1997 e 2000. Márcia entrou no programa para substituir Claudia Jimenez e Ilana Kaplan, e saiu porque engravidou da filha Manuela, sendo substituída por Claudia Rodrigues. Foi com certeza seu personagem mais marcante e o que a deixou famosa entre o grande público.
Depois de sua saída do saudoso programa humorístico, retornou à TV em 2002, em sua primeira novela, com a personagem Juventina em Desejos de Mulher. Na mesma década, participou de programas como Sítio do Pica-Pau Amarelo, Brava Gente, Sob Nova Direção, A Grande Família e Dicas de um Sedutor. Atuou ainda nas novelas Sete Pecados (2007) e Beleza Pura (2008). Nesta década, foi vista, entre outras atrações, na pele de Madame Chuchu na novela Morde e Assopra (2011) e como Felícia na série Pé na Cova (2013).
Na TV a cabo, nos canais fechados, participou da segunda temporada (2014) da série As Canalhas, no canal GNT. No canal Multishow, fez parte do elenco recorrente do programa Vai que Cola (2013-2016) e teve papéis de destaque nos humorísticos Trair e Coçar É só Começar (2014) e Treme Treme (2016). No cinema, a atriz atuou nos filmes Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida (2004), Um Show de Verão (2004), Xuxa Gêmeas (2006), Trair e Coçar é Só Começar (2006) e O Diário de Tati (2012).
Em 2013, Márcia Cabrita retornou ao palco do Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, para a gravação dos quatro episódios do especial de Sai de Baixo, exibido pelo canal Viva, voltando a contracenar com seus parceiros Luiz Gustavo, Aracy Balabanian, Miguel Falabella e Marisa Orth. No especial, sua personagem foi destaque (veja aqui).
Márcia Cabrita foi um rosto que marcou uma geração inteira com graça e irreverência. E é assim que deverá ser lembrada pelo público que riu com seus personagens.
Após 11 anos sem se reunirem, os moradores do Largo do Arouche receberam um convite anônimo para um jantar no apartamento onde viveram. Chegando lá eles descobriram que a anfitriã misteriosa era a ex-empregada doméstica Neide Aparecida (Márcia Cabrita). Ela deu a volta por cima, ganhou 3 milhões de reais em um processo e era a nova dona do local. Falidos, os personagens acabaram aceitando morar de favor no antigo endereço.
Neste ano, a atriz foi escalada para viver a personagem Germana na novela das seis Novo Mundo. Porém, para se recuperar dos problemas de saúde, teve que passar o papel para Vivianne Pasmanter. Os autores da novela criaram então outra personagem para Márcia Cabrita: Narcisa Emília O’Leary, mulher de Bonifácio (Felipe Camargo), que entrou por volta do capítulo 60. Entretanto, em agosto a atriz voltou a ter complicações e precisou deixar a trama novamente, não retornando mais.
Para matarmos as saudades, podemos assistir ao Sai de Baixo no Canal Viva, toda terça-feira às 21h15, na quinta-feira, às 22h, ou no domingo, às 23h45. Além disso, todos os episódios estão disponíveis na GloboPlay.
Márcia Cabrita foi um rosto que marcou uma geração inteira com graça e irreverência. E é assim que deverá ser lembrada pelo público que riu com seus personagens. A atriz não foi vencida pelo câncer. Pelo contrário, ela riu, brincou, subiu no palco, dançou e gargalhou: mostrou que poderia encarar o diagnóstico sem o dever da cura e com a dignidade de se sentir humana. Ela venceu a doença durante 7 anos. Em uma entrevista com a atriz e comediante em 2011, Jô Soares disse uma frase que talvez melhor defina o sentimento de todos em relação a essa mulher guerreira: “Márcia Cabrita não existe. Ela é o próprio espetáculo”.