No início de março, chegou ao Netflix a tão aguardada nova série de Tina Fey. Com um ritmo ágil e humor afiado, Unbreakable Kimmy Schmidt narra o dia-a-dia de Kimmy, uma jovem de 30 anos que tenta se adaptar à sociedade após ter passado 15 anos presa em um porão com outras 3 mulheres, vítimas de um fundamentalista religioso que as forçava a viver em um falso mundo apocalíptico. Recém libertada e cansada de uma vida de limitações, a moça de Indiana decide se distanciar de suas colegas de confinamento, deixando a zona de conforto de lado e se jogando de cabeça (e apenas com uma mochila nas costas) na gigantesca cidade de Nova York.
Ao primeiro olhar, temos a premissa de um drama com fortes críticas sociais. Porém, nas mãos de Fey e do co-criador Robert Carlock, o produto se tornou uma sitcom leve e fácil de ser digerida, sem deixar as alfinetadas políticas e culturais de lado, que são marcas registradas da co-criadora, fortemente presentes em suas antigas produções como 30 Rock e Meninas Malvadas – sim, o clássico adolescente estrelado por Lindsay Lohan.
Aliás, o que faz de Unbreakable Kimmy Schmidt um sucesso, além da simpática protagonista interpretada pela sempre competente Ellie Kemper, é o fato de seguir a mesma fórmula 30 Rock de rir do absurdo, sem nunca soar como uma cópia preguiçosa da antiga comédia da NBC. A Nova York colorida, as paródias da real life, os atores convidados… tudo é muito parecido, mas as situações são diferentes. Enquanto 30 Rock retrata as frustrações de Liz Lemon por ter uma identidade definida por sua vida profissional, em Unbreakable Kimmy Schmidt vemos uma protagonista frustrada por sequer ter uma identidade estabelecida.
Em busca constante pelo autoconhecimento, Kimmy se depara com inúmeros obstáculos culturais. O que poderia ser repetitivo acaba se tornando uma trajetória hilária e inesperada. Graças ao carisma de Kemper e sua facilidade em interpretar personagens adoráveis – vide suas participações em The Office, The Mindy Project e no filme Missão Madrinha de Casamento -, torna-se impossível não se identificar com a garota e vibrar com cada obstáculo superado, o que faz desse o auge da carreira da atriz até o momento.
Os 20 minutos de cada episódio acabam passando rapidamente, fazendo assim a alegria dos aficcionados por maratonas.
Devido a um roteiro bem elaborado e repleto de mistérios acerca do passado da personagem – sério, de onde vem aquele pavor todo por velcro?! -, os 20 minutos de cada episódio acabam passando rapidamente, fazendo assim a alegria dos aficcionados por maratonas. Graças à facilidade de Fey em fazer referências à cultura contemporânea sem nunca parecer forçado, duas sentadas no sofá são suficientes para devorar os 13 episódios dessa primeira temporada.
Aliás, as referências são inúmeras, como por exemplo as piadas envolvendo o culto às selfies, a popularização dos “telefones macintosh” e a diferença entre gostos musicais da protagonista e seu colega de apartamento. Mas a que se faz mais presente pode acabar passando despercebida para os não antenados. Trata-se da própria música de abertura da série, que é uma clara referência ao remix Bed Intruder, baseada naquela entrevista de um jovem para televisão comentando um assalto que acabou sendo transformada em remix no Youtube (veja aqui). Inclusive, os próprios criadores do vídeo foram convidados para produzir a empolgante música dos créditos iniciais.
Talvez um dos maiores trunfos da série seja o fato de ser veiculada pelo Netflix. Não pela crescente popularidade que o portal de vídeos em streaming tem apresentado nos últimos anos, mas pela maior liberdade dada aos roteiristas para desenvolver seus produtos, diferente do que acontece nos canais convencionais. Para quem não sabe, Unbreakable Kimmy Schmidt foi originalmente produzida para a rede norte-americano NBC, porém devido a nova estratégia do canal em focar em produções de drama, a emissora abriu mão da série pela falta de espaço destinado a esse gênero em sua grade de programação. E quem sai ganhando com essa decisão seus espectadores, afinal, livre das limitações da televisão convencional, os roteiristas passam a ter mais liberdade para se aventurarem em um humor mais ácido, ficando assim cada vez mais próximo da linguagem de seu público.