Continuando minha maratona pessoal de Will & Grace, chegou a vez do segundo ano da série. Exibida entre setembro de 1999 e maio de 2000, a segunda temporada começa explorando ainda mais o relacionamento um tanto quanto abusivo (nas próprias palavras dos personagens) de Will e Grace, além de Karen e Jack, que saem apenas do apoio cômico nonsense para ocuparem lugares de destaque. São deles, aliás, os melhores momentos.
A temporada começa mostrando Grace saindo do apartamento de Will para morar no apartamento em frente ao dele, no mesmo prédio. A estratégia dos roteiristas é bastante inteligente, [highlight color=”yellow”]já que evita um esgotamento na dinâmica entre os dois personagens[/highlight], ao mesmo tempo em que os mantém perto o suficiente para que sempre estejam interagindo. Jack também passa a morar no apartamento de Karen depois de se casar com Rosario, a sensacional empregada de Karen que estava prestes a ser deportada. Vale atentar, aliás, que há uma sutil e moderna discussão sobre imigrantes no país e o preconceito dos norte-americanos, sempre expostos pelas falas péssimas da ótima Karen, em situações que soam mais engraçadas (e absurdas) nos dias de hoje do que há anos atrás.
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É, aliás, no tom político que a temporada acerta, especialmente no excelente e metalinguístico episódio ‘Acting Out’, em que Jack fica ofendido com a emissora NBC (a mesma que exibe Will & Grace nos EUA) quando a rede veta um beijo entre dois homens, que deveria ter sido exibido em uma série de TV. O que se vê são diálogos impressionantes para a época, como: “você nunca verá um beijo entre dois homens no horário nobre” ou “quando eles não mostram o beijo estão querendo me dizer que o meu modo de vida é ofensivo”. O episódio termina, claro, mostrando um beijo entre Will e Jack.
O beijo, mesmo engraçadinho e inocente, [highlight color=”yellow”]é uma forma de protesto que abriu terreno para a importância histórica que a série teria para a cultura LGBT no mundo todo.[/highlight] Há, ainda, um belo episódio (“Girls, Interrupted”) sobre uma organização de “ex-gays” que “ajuda” outras pessoas a reverterem sua orientação sexual, algo ridicularizado pela série e que, infelizmente no Brasil, ainda existe.
É, aliás, no tom político que a temporada acerta.
Outro grande acerto é terem humanizado os personagens. Se a grande reclamação de boa parte da audiência na época era de que os personagens gays pareciam estereotipados demais, no segundo ano há mais complexidade entre os assuntos abordados e Jack e Karen, de longe os mais exagerados, ganham uma vida por trás das piadas. Jack está em busca do pai que nunca conheceu e Karen descobre ter sentimentos pelos amigos e, veja só, pelo próprio marido. Se o primeiro ano foi eficaz em apresentar ao público personagens que pareciam ser amigos de verdade, a segunda temporada afina ainda mais a química de todos na tela.
Com 24 episódios que mantêm o ritmo desde o início, o segundo ano de Will & Grace começa a mostrar por que a série ainda é tão relevante mesmo após quase 20 anos.
Em breve, a coluna “Olhar em Série” analisará a terceira temporada. Lembrando que Will & Grace retornou ao ar para uma nona temporada depois de 11 e anos e já tem uma décima garantida.