Ícone dos primeiros anos do cinema de horror nos Estados Unidos, o ator Lon Chaney nunca teve uma vida muito glamourosa. Mesmo assim, sua trajetória pessoal e profissional se tornou uma narrativa bastante romântica no filme O Homem das Mil Caras (1957), dirigido por Joseph Pevney.
Raramente lembrada hoje, a obra serve como registro da biografia do astro de horror que estrelou O Corcunda de Notre Dame (1923) e O Fantasma da Ópera (1925). Chaney (James Cagney) trabalhava em shows de variedade, conhecidos como Vaudevilles, em que interpretava palhaços e fazia espetáculos de mímica. Filho de duas pessoas surdas, desenvolveu cedo a habilidade de se comunicar por meio de gestos e sinais.
Seu primeiro casamento, que lhe rendeu um filho – o ator Lon Chaney Jr. -, foi marcado por problemas conjugais. O artista tentou arruinar a carreira da esposa, que respondeu com uma tentativa de suicídio no teatro em que ele trabalhava. O escândalo o afastou da família e dos palcos e o levou ao cinema. Destacou-se na nova arte porque entendia de encenação muda e porque sabia se maquiar.
Os cenários artificiais, a fotografia preto e branco e a encenação excessivamente didática são elementos que envelheceram mal às sensibilidades contemporâneas.
No roteiro indicado ao Oscar de Ralph Wheelwright e da dupla Ben Roberts e Ivan Goff (criadores da série As Panteras), Chaney aparece explorando a própria habilidade na maquiagem porque precisa de dinheiro para conseguir a guarda do filho. É assim que chama a atenção de executivos, que veem na competência uma maneira de criar novas e desafiadoras personagens. Suas ações contra a primeira mulher são justificadas porque ele queria que a criança crescesse ao lado da mãe, que não deveria trabalhar.
Pevney, cuja carreira é marcada pela direção de produções modestas de estúdio, concebe aqui uma história de superação que pouco tem sintonia com a personalidade de Chaney. Agressivo e inovador, o personagem histórico está, em O Homem das Mil Caras, reduzido a um estereótipo, o de pai dedicado e teimoso. Isso tudo reforçado pela interpretação Cagney, que era famoso por tipos durões em fitas de máfia.
A estrutura de drama clássico também não ajuda a dar mais de uma dimensão ao protagonista. Os cenários artificiais, a fotografia preto e branco e a encenação excessivamente didática são elementos que envelheceram mal às sensibilidades contemporâneas. É difícil imaginar que o Chaney verdadeiro pararia uma cena de O Fantasma da Ópera para discutir a relação com o próprio filme – especialmente porque, segundo registram historiadores como David J. Skal, a maquiagem o deixava com muita dor.
O Homem das Mil Caras teve um papel fundamental na formação de Tom Savini, que viu o filme quando criança impressionado com o potencial de um profissional que atuava e criava a própria maquiagem. Em entrevistas, ele relata que a obra de Pevney foi fundamental para despertar interesse que o levariam a trabalhar nos efeitos visuais de Sexta-feira 13 (1980), Creepshow: Arrepio do Medo (1982) e Dia dos Mortos (1985).
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