Tinha um sério problema com portas. Não sabia, ao certo, como tudo havia começado, só sabia que era assim: as portas sempre se fechavam para ela. Consequentemente, ela também se fechava para as portas.
Deixou de ser fã dos Doors quando, numa tarde qualquer, imaginou um conjunto de portas cantantes saltitando no palco; arrancou a porta do quarto por não suportar mais a ideia de que aquele pedaço de madeira passava a noite toda a observando; entre duas ou quatro portas do carro, optou por uma moto para se locomover.
Mas, mesmo com toda a precaução, a vida não estava fácil. Queria uma nova ocupação e arriscou a porta giratória de uma agência de empregos. A porta travou, assim, sem mais nem menos, e ela ficou cinco horas e trinta e sete minutos presa entre os vidros. Saiu em todos os jornais da cidade e o bombeiro que a retirou virou herói municipal – e ela, piada nacional. Nunca mais passou nem perto das giratórias.
Se aventurou entrando pela porta de um shopping e, em seguida, a de um elevador, que levava à gerência. Entregou seu currículo no terceiro andar, antes de passar quinze minutos presa no banheiro – a porta travou e o faxineiro teve que a esmurrar. Não ela, a porta.
Entregou seu currículo no terceiro andar, antes de passar quinze minutos presa no banheiro – a porta travou e o faxineiro teve que a esmurrar. Não ela, a porta.
Desistiu.
Permaneceu no ofício de secretária numa pequena fábrica de fechaduras, na qual havia mais portas do que pessoas e mais fechaduras do que portas. Foi lá dentro que recebeu um pedido de casamento de seu namorado – ironicamente, atrás da porta do almoxarifado.
No dia do matrimônio, uma fila imensa no cartório e nada da noiva aparecer. Demorou, mas, de repente, estavam todos olhando para cima: era a noiva entrando pela janela.