Comer na frente dos outros é uma forma magnânima para demonstrar a força do amor, muito maior que soltar um peido, urinar de porta aberta ou ver a pessoa amada após seu despertar. Digo isso porque é preciso muita intimidade para encarar o momento crucial em que defrontará o desafio de encarar o mastigar alheio.
Veja bem, pode até parecer pouca coisa, mas é possível fazer a anatomia de um relacionamento a partir do simples ato de mastigar de seu companheiro ou companheira. Primeiro, porque não há nada mais sexy que uma pessoa que seja capaz de mastigar de boca fechada. Isso é semelhante a um orgasmo múltiplo, ou, ainda, o bom uso da crase. Segundo, porque apenas muito amor permite que você encare aquele beijo apaixonado após uma feijoada. Terceiro, bem, porque só o amor verdadeiro resistirá àquele resgate de resto de comida preso nos molares. Sim, amigo, comer na frente do outro é mais romântico que flores.
Nas sociedades antigas, quando o uso das mãos era mais comum que nos dias atuais, comer na frente dos outros também era considerado um evento social. Ter a honra de receber um convite para encarar um assado ao lado da realeza era encarado como ganhar na loteria – ainda que eu, em especial, talvez preferisse a loteria. Receber um cumprimento besuntado de gordura do leitão devorado também, ainda que eu não tenha nenhuma prova empírica de tal fato.
Não há nada mais sexy que uma pessoa que seja capaz de mastigar de boca fechada.
Na arte da conquista, esta prima desvairada do relacionamento sério, comer na frente do pretendente é, também, uma forma sensual e provocativa de convite ao prazer. Dedinho na boca, carinha de quem tá gostando demais… Nada supera os prazeres de um lábio delicadamente mordido. Veja bem, eu disse delicadamente. Não vá achar que é um canibal e sentar uma dentada no seu beiço.
Comer na frente dos outros também serve de exercício de paciência, seja para aguentar quem come de boca aberta, quem fala enquanto come ou quem come, fala e cospe. Terapêutico, não?