Entrou correndo na banca. Apontou.
– Oi, por favor, me vê aquela revista ali, Receitas da Dona Clotilde.
– Por quê?
– Por que o quê?
– Por que alguém tão jovem compra revista?
– Vou cozinhar pra minha namorada no jantar.
– Você não tem tablet?
Franziu a testa e respondeu a pergunta, meio sem graça.
– Não, eu não tenho tablet. A senhora pode, por favor, só pegar o que eu pedi? Estou com um pouco de pressa.
– No tablet você abre o Google e pesquisa a receita.
– Eu sei, mas eu quero a revista. Obrigado.
– Dá pra ler a receita ouvindo música.
– Tudo bem, eu agradeço pela dica. A revista.
– No tablet dá até pra baixar o e-book da Namaria.
Colocou levemente as duas mãos em cima do balcão.
– Eu sei que a senhora deve se impressionar com a tecnologia, mas eu ainda quero a revista.
– Dá pra ver vídeo das receitas e compartilhar com os amigos.
– Senhora, eu não quero ser mal educado…
– No tablet dá até pra baixar o e-book da Namaria.
– E você não tem idade de revista, tem idade de tablet.
Olhou para o chão, contando mentalmente até dez.
– Minha senhora. MINHA SENHORA!
– Quem compra revista hoje em dia? Faz mal pra natureza.
Levantou os olhos para ela.
– Veja bem, com todo o respeito, neste momento eu quero mais é que a natureza se foda. Você pode me dar a revista? Eu realmente preciso ir embora.
– É que não faz sentido o que você tá me pedindo, mocinho.
– Puta que me pariu! A senhora não é dona dessa banca de jornal?
– Revistaria.
– A senhora não é dona dessa revistaria?
– Sou.
– Então por que caralhos a senhora não quer vender revista?
– Eu também vendo tablet. Vou pegar um pra você ver.