Falar em Seattle é trazer à mente, quase sem risco de fugir à regra, o grunge ou os riffs de Jimi Hendrix. Tanto o exímio guitarrista como Kurt Cobain, Eddie Vedder e Chris Cornell deram cara à cidade, como se fosse impossível pensar no local onde mais chove nos Estados Unidos e não lembrar de seus nomes.
Vá lá que o tamanho da repercussão que esses personagens tiveram na história da música, no passado mais distante e mais recente, é o que garante esse status. Contudo, existe ali, no meio de blusas xadrez, do céu cinza e da chuva que lá cai, um nome que também merece destaque. E, não, não é sobre o seriado de Shonda Rhimes que estou falando.
Meagan Grandall realmente não é um nome muito famoso para além da terra do Tio Sam. Seu projeto, o Lemolo, faz indie rock que flerta com o dream pop de forma quase minimalista. O próprio grupo quase se resume a ela, ainda que divida o palco com outros instrumentistas, uma sensível mudança do primeiro disco, quando fazia um duo com Kendra Cox. É a voz suave e penetrante de Meagan que está presente em The Kaleidoscope, de 2012, e no mais recente disco, Red Light Return, lançado em novembro de 2015.
De Tori Amos a Codeine, ouvir os discos da Lemolo, ambos produzidos por Shawn Simmons, trazem uma sensação de certa solidão.
Meagan tem uma forma muito distinta de fazer música. A cantora imprime com delicadeza pequenas vocalizações que aproximam de uma música tribal, um resgate às origens, uma viagem pela obra Mulheres Que Correm Com Lobos.
O teclado, os sintetizadores são utilizados de forma que seus arranjos soem milimetricamente precisos e reflexivos. A música da Lemolo é quase introspectiva, ainda que alcance pequenos ápices de energia quando Meagan desprende o som de sua cadenciada voz.
O trabalho da Lemolo é preenchido com muitas guitarras distorcidas e letras que soam um tanto melancólicas, às vezes até autopunitivas, mas isso é o que dá às músicas um caráter tão ímpar.
As melodias nos dois trabalhos são realmente belas, intercalando ruídos e vocalizações em um conjunto harmônico primoroso. De Tori Amos a Codeine, ouvir os discos da Lemolo, ambos produzidos por Shawn Simmons, traz uma sensação de certa solidão.
Assistir a suas apresentações (existem algumas na rádio KEXP) mostram como é possível que funcionem no palco, ainda que sejam mais contemplativas do que pulsantes.
De The Kaleidoscope para Red Light Return há sensíveis mudanças. Ainda que estruturalmente os dois discos estejam alinhados, as canções no álbum mais recente têm uma profundidade diferente, seja por conta dos arranjos, seja por uma maior agressividade na postura de Meagan, verdadeiramente a cara, o espírito e a voz da banda. Ela aprimorou sua técnica vocal, aumentando sua versatilidade, fazendo um interessante casamento com o uso dos sintetizadores, a ponto de, por vezes, serem quase indistinguíveis.
Meagan e a Lemolo são uma descoberta agradável, necessária e prazerosa em toda sua complexidade.
NO RADAR | Lemolo
Onde: Seattle, Estados Unidos.
Quando: 2009
Contatos: Site | Facebook | Twitter | Instagram | Soundcloud | YouTube
VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, QUE TAL CONSIDERAR SER NOSSO APOIADOR?
Jornalismo de qualidade tem preço, mas não pode ter limitações. Diferente de outros veículos, nosso conteúdo está disponível para leitura gratuita e sem restrições. Fazemos isso porque acreditamos que a informação deva ser livre.
Para continuar a existir, Escotilha precisa do seu incentivo através de nossa campanha de financiamento via assinatura recorrente. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.
Se preferir, faça uma contribuição pontual através de nosso PIX: pix@escotilha.com.br. Você pode fazer uma contribuição de qualquer valor – uma forma rápida e simples de demonstrar seu apoio ao nosso trabalho. Impulsione o trabalho de quem impulsiona a cultura. Muito obrigado.
