Aos 40 anos a gente já não pensa, obviamente, como vai ser quando crescer, mas como vai ser quando envelhecer.
Por muito tempo acreditei que a tendência seria ficar mais sóbria, talvez um pouco mais elegante, optando por peças de alfaiataria, tricôs e tecidos naturais – poucos e bons itens nos tons de marrom, cinza, nudes e off white.
Mas só de escrever isso quase morri de tédio. Atualmente, minha única certeza é que não usarei minissaia e decotes, pelas razões óbvias.
À medida que amadurecemos, a moda vai perdendo a sua aura fetichista e ganhando identidade. E a gente vai encontrando formas de agradar a nós mesmos diante do espelho.
Sinceramente, acredito que o fato de a indústria da moda colocar modelos mais velhas em campanhas publicitárias e até mesmo em passarelas quer dizer a mesma coisa de colocar uma estrela pop ou uma pluz size: nada.
Ou seja, não quer dizer que a moda acredite que essas mulheres de fato a representem, mas apenas faz um parêntese de autoindulgência para voltar a repetir o padrão de juventude-magreza.
Não quer dizer que a moda acredite que essas mulheres de fato a representem, mas apenas faz um parêntese de autoindulgência para voltar a repetir o padrão de juventude-magreza.
Crítica feita, dando de ombros e voltando à vaca fria – ou velha. Tenho me pegado observando amigas dez, vinte anos mais velhas e admirando seus sensos estéticos.
Uma bolsa amarela grande para iluminar um look mais escuro; vestidos largos, sapatilhas e muitos acessórios no pescoço; quimonos; cabelos assumidamente grisalhos ou assumidamente tingidos. A conclusão é que um pouco de ornamentação não faz mal a ninguém.
Sobre o preto eu tenho uma observação que sempre faço à dona Sueli, minha mãe. Essa cor tão apropriada para quase todas as ocasiões e que nos faz maravilhas quando estamos com quilinhos a mais tende a criar um contraste duro que enfatiza as rugas quando vamos chegando perto do crepúsculo da vida. Melhor colocar entre a pele e a roupa um lenço esfuziante ou um acessório mais chamativo.
Tendo a pensar que quando a idade chega a moda não é mais para seduzir (o outro) e, sim, para divertir (a nós mesmos). Um bom exemplo pra começar a pensar nisso é o blog Advanced Style, criado pelo fotógrafo nova-iorquino Ari Seth Cohen.
O projeto, que começou despretensiosamente com a captação de imagens do street style de pessoas maduras, já virou livro e até um documentário super badalado. É uma imersão e tanto navegar pelo blog e ver senhoras e senhores estilosos e coloridos mundo afora.
É fato é que quem nasceu pra dona Odete Roitman nunca chegará à Iris Apfel – a excêntrica designer norte-americana que é ícone de moda aos 94 anos (ela valeria um texto só sobre ela) -, é difícil mudar o padrão da vestimenta apenas porque se está envelhecendo, sob pena de perder a essência. O que proponho é menos rigidez com os padrões, fidelidade ao bom senso e um pacto com a criatividade. Ser velho não precisa ser o mesmo do que ser invisível.
Em tempo: Iris Apfel é uma mulher admirável tanto por sua estética quanto por sua postura perante a vida. Dá pra conhecer um pouco mais sobre essa figura no documentário Iris, do cineasta Albert Maysles.
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