• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Crônicas Yuri Al'Hanati

Como é gostoso sair de saia no calor

porYuri Al'Hanati
25 de julho de 2016
em Yuri Al'Hanati
A A
"Como é gostoso sair de saia no calor", crônica de Yuri Al'Hanati.

Imagem: AppleMark.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Minha namorada visitou a Escócia e me trouxe um kilt de presente. A tradicional saia masculina, maior característica da cultura daquele país junto com a barulhenta gaita de fole, parece combinar menos com o clima gélido do norte das Ilhas Britânicas e mais com o calor dos trópicos, que se estende para além do paralelo de Capricórnio e castiga a gente pacata de uma outrora gélida Curitiba. Ora, claro, nada como usar uma saia no calor, qualquer mulher pode confirmar isso. Sentir o vento invadir o interior das coxas e jamais sufocar pele e junções com tecidos agarrados e calorentos.

A praticidade de vestir e conservar uma roupa sem cós para puir e sem barra para fazer é tanto um privilégio feminino como um ícone de sua suspeita fragilidade, fazendo oposição a uma igualmente suspeita imponência do par de calças, essas sim, frágeis o bastante para se rasgarem ao movimento de uma espontaneidade qualquer.

Saí de casa pela primeira vez com meu kilt verde e azul em um sábado ensolarado e quente, para comprar as coisas do almoço. Eu, que há alguns anos desisti de andar sem chamar muito a atenção, estava um tanto ansioso para desfilar com minha saia e testar as reações de uma cidade tanto moderna quanto culturalmente ignorante e intolerante, certo de que a distância entre minha figura deslocadamente escocesa e o próximo crossdresser pareceria pouca aos olhos do bairro.

A rua estava tomada de gente, e no caminho entre minha casa e o açougue passei por uma oficina mecânica e por dois mendigos que, se pensaram em comentar alguma coisa, guardaram as impressões para si.

Estava um tanto ansioso para desfilar com minha saia e testar as reações de uma cidade tanto moderna quanto culturalmente ignorante e intolerante, certo de que a distância entre minha figura deslocadamente escocesa e o próximo crossdresser pareceria pouca aos olhos do bairro.

Já no caminho para o mercado, passei por um boteco com senhores de meia idade, que bebiam suas cervejas já meio embriagados sob o sol do meio-dia, alguns adolescentes sentados em uma mureta com seus skates a tiracolo e algumas senhoras em frente a um salão de beleza. Essas foram as únicas que detiveram os olhares sobre mim, mas foi só isso – alguns olhares curiosos e provavelmente algum comentário bem humorado depois, longe dos meus ouvidos.

Resumindo esse pequeno episódio anticlimático, voltei pra casa com as minhas compras e nenhum assobio ou malcriação nesse meio tempo. Talvez os tempos estejam mudando, talvez um kilt não seja nada demais, talvez a cautela do “vai que é maluco” ainda seja uma prática dos dias de hoje, fato é que, no geral, me senti a vontade e fresquinho com meu kilt, e faria proselitismo político em favor de uma adoção ampla da peça de roupa por aqui, em especial nesta cidade que gosta de jactar de ser um pouquinho da Europa no Brasil. A todos os homens que por acaso estiverem lendo isso e que também compartilhem a vontade reprimida de usar uma saia, seja ela masculina ou feminina: não se furtem a esse prazer. A revolução está vindo. Uma saia de cada vez.

Tags: BrasilcalorCrônicaCulturaescóciakiltpraticidadesaia

VEJA TAMBÉM

James Gandolfini em Família Soprano
Yuri Al'Hanati

O mistério da morte

5 de abril de 2021
Wood Naipaul
Yuri Al'Hanati

Aprender a ser Biswas

29 de março de 2021
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

Longa de Babenco foi indicado em quatro categorias no Oscar, levando a de melhor ator. Imagem: HB Filmes / Divulgação.

‘O Beijo da Mulher Aranha’, de Hector Babenco, completa 40 anos como marco do cinema latino-americano

27 de junho de 2025
Assinada por George Moura e Sergio Goldenberg, produção é nova aposta da Globo. Imagem: Globoplay / Divulgação.

‘Guerreiros do Sol’ e a reinvenção do cangaço na dramaturgia brasileira contemporânea

26 de junho de 2025
12ª edição começa nesta quarta-feira. Imagem: Divulgação.

8 ½ Festa do Cinema Italiano reúne produções de ontem e hoje

25 de junho de 2025
Imagem de Andy Warhol diante de suas serigrafias. Imagem: Autoral Filmes / Divulgação.

‘Andy Warhol – Um Sonho Americano’ desvenda a origem da genialidade do famoso artista

25 de junho de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.