Culturalmente, as tormentas possuem muita influência na construção dos povos. Enquanto os romanos consideravam que elas eram o resultado de batalhas entre Deuses e Titãs, os índios acreditavam que elas seriam servas de deuses. Não são poucas as pessoas que se encantam por seus aspectos visuais (e artísticos), criando verdadeiras caçadas a elas. É inevitável: ninguém passa incólume a uma tormenta.
Metaforicamente, significamos tormenta como um momento de atribulações, de adversidades, período ocasionado por variados dissabores ou desgostos, dores, infelicidades, que por vezes amargam períodos de nossa existência. E não há o que ser feito: seremos todos, em algum momento de nossas vidas, acometidos por uma tormenta.
Pois foi neste espaço entre uma tempestade e outra que Helena Sofia escreveu mais uma página musical em sua carreira. Com produção e arranjos de André Prodóssimo (que também toca sintetizador e violão em “Romance”), pianos de Andrezza Prodóssimo e Rodrigo Marques no baixo que a cantora e compositora lança seu segundo álbum, o contemplativo e intimista Tormenta.
A crueza e complexidade dos sentimentos são expostos por Helena Sofia nas 10 faixas que compõem o disco, um trabalho que vai em direção contrária ao apresentado em Desejo Canibal, fazendo de seu aspecto minimalista um retrato sui generis sobre a trilha emocional permeada pela tristeza, pelas incertezas e melancolias.
Tormenta pode ser compreendido como uma obra estendida, onde o tema é tratado de forma constante sobre os mais variados recortes, mostrando as diferentes nuances enfrentadas nesta jornada de intensidade sentimental.
Tormenta pode ser compreendido como uma obra estendida, onde o tema é tratado de forma constante sobre os mais variados recortes.
Mas há um jogo muito humano feito por Helena Sofia e trazido à tona em seu novo álbum: a certeza de que nossa humanidade é elevada quando exercitada a várias mãos. A cantora faz isso convocando um time ímpar de parceiros, como Rodrigo Medeiros, Guilherme Shibata, Karla Izidro e Murilo Silvestrim (músico que lançou recentemente o disco Prisma). Há espaço ainda para a adaptação do poema “Los Ensueños” de Ramón Sampedro, poeta espanhol falecido em 1998, presente no livro Cartas do Inferno, que deu origem ao filme Mar Adentro, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2005. Da energia do poeta, um desesperançado da vida, Helena Sofia foi buscar sua experiência como marinheiro, sua sensibilidade e lucidez ao tratar a dor, alguém acostumado às tormentas da vida.
Em suma, fica evidente a capacidade da artista em fazer um álbum conceitualmente simples e longe de ser simplório, complexo pelas cargas sentimentais expressas em cada canção do disco e, ainda assim, de fácil assimilação. Certamente, cada ouvinte encontrará uma obra única e uma faixa para chamar de sua.
Você pode fazer o download de Tormenta no site oficial da cantora ou clicando aqui.