Minha tia-avó Helena partiu na quinta-feira passada e, acreditem ou não, sua morte me pegou de surpresa, embora ela tivesse 101 anos. Por alguma razão, eu achava que, desafiando o tempo, driblando a lógica da biologia, ela seria eterna, e sempre faria mais um aniversário – o último foi em agosto. Eu apostava em sua eternidade, talvez porque, no fundo do coração, eu a enxergava como uma espécie de amuleto de sorte, de antídoto contra o cinismo do mundo.
Era uma força da natureza que me conectava, secretamente, com o que de melhor trazia guardado no coração de minha infância e adolescência. Ela representava tempos felizes, almoços de domingo em família, cantorias nas escadas de sua casa. Dias já longínquos em que quase tudo e todos que eu mais amava estavam perto, vivos, e eu me sentia protegido contra as tempestades do futuro. E elas vieram.
Irmã mais velha de minha avó, Hilda, que nos deixou em 2000, dona Helena, ou tia Hely, como era conhecida na intimidade, foi, desde que eu me lembro, um exemplo para seus filhos, netos, bisnetos, sobrinhos e quem mais teve o privilégio de conviver com ela. Modelo de serenidade, ponderação, otimismo, vontade de viver. Uma luz constante, que sempre estava lá, para nos guiar.
Minha tia-avó Helena partiu na quinta-feira passada e, acreditem ou não, sua morte me pegou de surpresa, embora ela tivesse 101 anos. Por alguma razão, eu achava que, desafiando o tempo, driblando a lógica da biologia, ela seria eterna, e sempre faria mais um aniversário – o último foi em agosto. Eu apostava em sua eternidade, talvez porque, no fundo do coração, eu a enxergava como uma espécie de amuleto de sorte, de antídoto contra o cinismo do mundo.
Dona de uma memória invejável, professora do ensino público aposentada (de piano, inclusive), tia Hely cantou, em sua festa de 100 anos, o hino de Paranaguá, sua cidade natal, e chegou a ser entrevistada pela veterana jornalista Rosy de Sá Cardoso, da Gazeta do Povo, que tentava descobrir a história da composição, perdida no tempo. Ela, é claro, lembrava! E se recordava de tudo, e nos servia como uma espécie de banco vivo de dados, sabendo contar, em detalhes, com nomes e sobrenomes, histórias de gerações da família. Para sabermos melhor quem éramos, recorríamos a ela e nunca ficávamos sem respostas. Uma matriarca, no melhor sentido da expressão.
Dona Helena lia as crônicas que escrevo, as recortava, guardava, e quando nos encontrávamos, falava sobre eles, fazia questão de comentá-las comigo, porque ela era assim. Um ser humano, cada vez mais raro, que realmente se interessava pelos outros e enxergava na vida uma dádiva – e fez absoluta questão de viver cada dia de seus mais de 101 anos de existência.
No momento em que soube de sua partida, levei um susto, e chorei bastante. Um tanto por mim, mais um bocado por ela, que amava tanto a vida, mas, principalmente, pelo mundo, que perdeu uma grande dama, um espírito atento, elegante e generoso. Um farol que não se apagará com essa despedida, porque seguirá brilhando dentro de quem a conheceu de perto, e a amou. Não foram poucos.
Para sempre, Helena.