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‘O Voyeur’: invasão de privacidade

Em 'O Voyeur', Gay Talese apresenta a perturbadora história do dono de motel que criou um sistema para observar e documentar a intimidade de seus hóspedes.

porEder Alex
16 de novembro de 2016
em Literatura
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'O Voyeur': invasão de privacidade

O autor Gay Talese. Imagem: Reprodução.

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Gay Talese é conhecido como o inventor do jornalismo literário. Obras como A Mulher do Próximo, Honra Teu Pai e Vida de Escritor consolidaram o seu nome no mundo das letras e estabeleceram uma nova maneira de se contar histórias reais em jornais e revistas.

Décadas antes da VICE surgir e se meter a fazer matérias jornalísticas com tom de narrativa (com aquela linguagem adolescente meio imbecilizante), Gay Talese, sempre metido num chapéu elegante, já estabelecia uma sólida carreira escrevendo textos com uma qualidade estética impressionante, pouco vista no jornalismo, mas bastante comum na literatura. Como ele sabia que não poderia ser tornar o maior romancista de seu tempo, tratou de dar um jeito de ser o número 1 em outro gênero.

Famoso por fazer apurações absurdamente criteriosas e também por ter aversão à internet, Talese levou um tombo justamente naquilo que tanto priorizou na sua carreira: a confiabilidade das informações utilizadas em seus trabalhos. O Jonatan, outro colunista aqui da Escotilha, explicou o recente quiproquó em que o autor se meteu (leia aqui), mas em resumo o que aconteceu foi: prestes a lançar o livro O Voyeur (Companhia das Letras, com tradução de Pedro Maia Soares), Talese descobriu que muitas informações colhidas ao longo de sua reportagem talvez não fossem verdadeiras.

Famoso por fazer apurações absurdamente criteriosas e também por ter aversão à internet, Talese levou um tombo justamente naquilo que tanto priorizou na sua carreira: a confiabilidade das informações utilizadas em seus trabalhos.

Ok, após muitos anos engavetado, o livro saiu mesmo assim e muito se escreveu a respeito dessa treta, da credibilidade do jornalista, da necessidade de confirmação de dados, da ânsia que as histórias reais sejam tão perfeitas como quer a nossa imaginação, etc. Reconheço a importância destas discussões, mas o que me interessa agora é pular tudo isso aí e partir pra seguinte questão: O Voyeur é um bom livro apesar disso tudo?

Resposta: não, ele não é só bom, ele é bom pra caralho.

Pra quem não conhece a história: certo dia Talese recebeu uma carta de um sujeito chamado Gerald Foos dizendo que ele comprou um motel no Colorado e instalou pontos de observação no teto dos quartos. O homem afirmava que durante mais de uma década observou sem ser visto a intimidade das pessoas que passaram por lá e fez anotações minuciosas sobre tudo: idade dos hóspedes, aparência física, posições praticadas, diálogos, hábitos de higiene, se houve orgasmo ou não, etc. O cara, que obviamente é um completo maluco, se dizia um estudioso do comportamento sexual do americano médio e que sua “pesquisa” poderia contribuir para a compreensão da sociedade.

Em mais de um momento ao longo do livro, Talese deixa claro que não há como ter certeza absoluta que Foos está falando a verdade, pois a principal fonte de pesquisa, além das entrevistas, são as anotações do próprio dono do motel:

“E há outras datas em suas notas e diários que não batem. Não tenho nenhuma dúvida de que Foos era um voyeur épico, mas às vezes podia ser um narrador impreciso e não confiável. Não posso garantir a autenticidade de todos os detalhes que ele narra em seu manuscrito”.

Por outro lado, o repórter viajou até lá e viu o motel com os próprios olhos. No início do livro há, inclusive, fotos dos quartos e do bizarro sistema de observação criado por Foos. É um troço tão profissional que fará você ficar bem paranoico ao entrar em qualquer quarto dali em diante.

O livro relata, com riqueza de detalhes, tudo o que o dono do motel diz ter observado. A narração de Talese vai sendo alternada com trechos do próprio diário, que também apresenta uma veia literária bem interessante e um viés psicológico um tanto perturbador, afinal, ao acompanharmos com tanto fascínio (o livro é viciante) toda aquela invasão de privacidade de pessoas desconhecidas, não estaríamos nós também nos comportando como o criminoso?

O livro possui uma alta carga de erotismo, com várias descrições de sexo explícito dos mais variados, desde o papai-e-mamãe básico até uma orgia mais hardcore, mas o interesse sobre as questões sociológicas e até mesmo históricas acabam prevalecendo. Foos faz uma análise interessante a respeito do comportamento sexual do americano no pós-guerra (Vietnã), já que vários soldados deprimidos, perturbados, amputados, etc passaram pelo motel. Ele identifica também as mudanças sociais a partir do momento em que começam a surgir casais inter-raciais, coisa que não era bem aceita naquele período.

Fora isso tudo, Foos descreveu aquilo de mais inusitado a acontecer ao longo de sua carreira de doido varrido: ele testemunhou um assassinato dentro de um dos quartos. Talese reserva parte do livro para apurar o que de fato aconteceu e qual foi a reação do dono do motel, uma vez que aquela informação cairia como uma luva num enredo de literatura policial.

O jornalista também descreve outra questão interessante: em diversos momentos de observação, nada estava acontecendo nos quartos. Boa parte dos hóspedes possuía uma vida sexual bem ativa, mas em várias situações o voyeur apenas assistia pessoas assistindo televisão durante horas e horas. Como o espelho do nosso próprio tédio pode alimentar tanto interesse pelo outro? Talvez seja a ânsia pela quebra da expectativa, o desejo de que algo saia dos trilhos, irrompa daquele marasmo e nos mostre que a vida pode ser maior do que a nossa solidão. E aí que a ficção ganha espaço, mas isso é papo para uma outra conversa.

Enfim, talvez por eu não ser um jornalista, toda a confusão do pré-lançamento de O Voyeur e a questão envolvendo a credibilidade do autor não afetaram em nada a minha experiência de leitura. Comecei o livro sabendo que parte daquilo é verdade e parte pode não ser, então ok. E mesmo se tudo fosse apenas ficção (e no fundo, no fundo todos os livros são), provavelmente eu gostaria do mesmo jeito.

Não é o melhor trabalho de Gay Talese, é claro, mas muitos dos elementos que o tornaram tão célebre estão presentes, principalmente o cuidado primoroso com a narração e as descrições. Fora isso, a história é tão fascinante e doentia que é quase impossível parar de lê-la. Portanto, ponto para o velhinho de chapéu.

O VOYEUR | Gay Talese

Editora: Companhia das Letras;
Tradução: Pedro Maia Soares;
Tamanho: 268 págs.;
Lançamento: Setembro, 2016.

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Tags: Companhia das LetrasCríticaCrítica Literáriaescritores contemporâneosGay TaleseGerald FoosJornalismoJornalismo LiterárioLiteraturaLiteratura AmericanaLiteratura Contemporânealiteratura norte-americananão ficçãoPedro Maia SoaresResenhaReviewVoyeur

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