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Home Crônicas Henrique Fendrich

Todo mundo foi internado

porHenrique Fendrich
8 de março de 2017
em Henrique Fendrich
A A
Todo mundo foi internado

Ilustração: Reprodução.

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1995 foi um ano ruim, direis. E com razão, porque todo mundo lá em casa foi internado ao menos uma vez. Primeiro foi a salmonela, aquela bactéria que aparece em alimentos que não são cozidos. Era um domingo, dia de se comer maionese, e esse foi o nosso mal. A bacteriazinha estava lá no meio e nós a engolimos sem saber. Não lembro como passamos a tarde, mas de noite já estávamos todos passando mal: diarreia, vômitos, febre, o diabo. Não havia jeito, precisávamos procurar um hospital. Antes de sair, tive que voltar para vomitar outra vez.

E então fomos para o hospital, e não nos deixaram sair. Ficamos lá, deitados em uma cama e tomando soro. Deveríamos dormir ali também, mas aquela foi uma noite muito mal dormida. Eu estava com vontade de ir até o banheiro, mas como é que se vai até o banheiro tendo o braço cheio de tubos presos a um cabide? Precisava apertar um botão, chamar uma enfermeira para me acompanhar, levar o soro comigo. Fiz isso uma vez, mas durante a noite, meio dormindo, meio delirando de febre, eu me levantei e tentei ir sozinho, por pouco não arrebentando os fios todos. Depois me começaram cólicas terríveis. E pensar que tudo isso acontecia por causa da maionese!

Acho que ficamos lá dois ou três dias, comendo aquela comida de hospital, aquelas bolachinhas salgadas, aquela janta que acontece às cinco da tarde.

Acho que ficamos lá dois ou três dias, comendo aquela comida de hospital, aquelas bolachinhas salgadas, aquela janta que acontece às cinco da tarde. Dizia-se que Coca-Cola matava as bactérias, o que não é de se admirar, pois ela também faz isso com humanos. O fato é que a família nos presenteou com muitos litros de Cola-Cola, que nós tomamos até bem depois de recebermos alta.

Isso foi no começo do ano. Em agosto eu voltei ao hospital para tirar as amígdalas. Ah, aquilo já estava me enchendo o saco mesmo, qualquer arzinho mais frio já me dava dor de garganta. Que arrancassem! No dia da cirurgia, me deram um negócio para inalar, mas era uma pegadinha, porque aquilo me apagou completamente. E foi realmente uma pena que, durante este tempo, eu não tenha visto nenhum túnel, nenhuma luz, nenhum parente morto, nenhuma antevisão do céu que me ajudasse a viver melhor quando despertasse. Qual, eu sou um ansioso mesmo sob anestesia geral, e quis me levantar várias vezes enquanto as enfermeiras me levavam até o quarto.

Dessa internação, eu me lembro especialmente das revistinhas que o meu pai havia comprado para que eu lesse lá. Ainda guardo aquele Mickey lido no meu primeiro dia sem amígdalas. Passei a noite lá, no dia seguinte me liberaram e me fizeram comer muita gelatina, muito sorvete, coisas que só fazem bem a quem está doente.

Por fim, já perto do Natal, quem foi internado foi o meu pai, com pedra na vesícula. Inclusive, passou lá a véspera de Natal. Aí tem aquela coisa, é seu pai que está lá internado, mas nem por isso você pode ir entrando a hora que bem entende. Há um horário específico, e dos mais curtos, e nunca pode entrar muita gente. Mas fizemos muitas visitas, toda a família, menos minhas primas, todas pequenas, que tinham medo de entrar em hospital.

Medo, eu não tenho, até me acostumei bastante com o ambiente de hospital, depois que, anos mais tarde, tive que trabalhar em um. Mas vou dizer uma coisa, eu ainda olho desconfiado para muita maionese por aí.

Tags: Crônicahospitalinternaçãointernado

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