Tom, um título que lembra música, numa peça em que a música arrepia e faz a plateia se balançar (o ritmo pop rock, por sorte, grudou na minha cabeça e desbancou o sucesso A Casa do Mickey, que ocupava 97% do meu cérebro desde sexta-feira. Obrigada, Alexandre Nero e Gilson Fukushima). A peça fica em cartaz no Fringe até dia 9 de abril.
O som vem das três portas que saem do palco do Teatro Novelas Curitibanas, nas guitarras, bateria e baixo de Priscila Graciano, Sergio Justen e Robson Zan Zanlucas. Logo de início, no meio e no fim, a canção escrita para o espetáculo está presente e nos faz sentir num musical carioca. Só que o restante, soturno, as janelas abertas para a chuva artificial, o figurino noir nos lembram que nosso check-in é Curitiba, mais especificamente o lado deserto do São Francisco.
Tom é o protagonista (Ranieri Gonzales), que está, literalmente, no centro desse drama. Tem um pé no não-drama (o texto é lírico, os personagens são na verdade vozes que se intercambiam entre os atores) e outro num enredo dramático que constrói a ideia de um rapaz perturbado. Tom. Ele ouve discursos ininterruptos vindos de cinco fontes, vozes que mesclam cobranças familiares e uma mulher, talvez duas, que o deixam obcecado e paralisado.
A peça dialoga com trabalhos anteriores da Cia do Damaceno: fosse uma série de super-heróis, Tom poderia ser uma prequel de Artista de Fuga.
Parece um adolescente, mas o texto remete a um jovem adulto. Os outros cinco atores giram ao seu redor em plataformas móveis, e quando mudam de uma para a outra precisam se equilibrar. Mais ou menos como nos acasos e desencontros que ocorrem na vida, nos forçando a girar conforme o sentido do momento.
A peça dialoga com trabalhos anteriores da Cia do Damaceno: fosse uma série de super-heróis (um herói escritor?), Tom poderia ser uma prequel de Artista de Fuga. As origens do tormento daquele homem que também ouve cobranças e tem dificuldade em se desvencilhar delas – por falar nisso, é bom recordar daquela peça de pouco mais de um ano atrás: que final! Quem viu sentiu-se num cabaré de mágicas.
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Tom faz o desenrolar daquele tema, num percurso que aponta para a pesquisa do dramaturgo Marcos Damaceno, muito em torno do inconsciente. O choque provocado pela promessa musical do início e o lirismo trazido pelo texto é um daqueles enigmas propostos pelo teatro, ficando o resultado a cargo da experiência que cada um na plateia leva consigo.
SERVIÇO | ‘Tom – 208 beijos e abraços sem fim’
Onde: Teatro Novelas Curitibanas | R. Carlos Cavalcanti, 1222;
Quando: Dias 31 de março, 01 e 02 de abril; e de 06 a 09 de abril, quinta a domingo, às 19h;
Quanto: R$ 30.
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia e Direção Marcos Damaceno
Assistência de Direção Marrara Mara
Elenco: Rosana Stavis; Zeca Cenovicz; Ranieri Gonzales; Mariana Thomas; Marrara Mara e Pedro Latro.
Músicos: Priscila Graciano; Sergio Justen; Robson Zan Zanlucas.
Musica Original: Alexandre Nero e Gilson Fukushima
Direção Musical: Gilson Fukushima
Iluminação: Beto Bruel
Cenografia: Marcos Damaceno
Figurino: Maureen Miranda
Cenotécnicos: Paulo Carvalho; Paulo Pessin
Operador de Luz: Debora Zanatta
Operador de Som: Guto Gevaerd
Direção de Produção: Luis Roberto Meira
Produção Executiva: Diego Marchioro
Assistência de Produção: Thomaz Marcondes e Rosa Aragón
Designer Gráfico: Foca Cruz
Fotografia: Marcelo Almeida
Teaser e Registro de Vídeo: Alan Raffo
Realização: Marcos Damaceno Companhia de Teatro e Araucária Produções Artísticas