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A incansável luta do teatro contra a intolerância

porBruno Zambelli
17 de agosto de 2017
em Teatro
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Vez ou outra ficamos perplexos diante do mundo. Quando isso acontece, parece que perdemos o chão e o ânimo. Ficamos atordoados, soterrados pelo desgosto e asfixiados pela impossibilidade. Nessas horas, geralmente entregamo-nos ao silêncio, por mais que seja necessário gritar diante do horror. O peito muitas vezes emudece ao invés de lutar. Isso é próprio dos tempos sombrios, como os que temos atravessado. No entanto, é preciso lembrá-lo, nem que seja na base do susto e da exaustão, de que muitas vezes a omissão é uma forma de conivência.

Fascismo, racismo e intolerância. Essas palavras vieram à tona nessa semana em que o mundo assistiu perplexo aos “confrontos raciais” e à ascensão da estupidez em Charlottesville. Empunhando tochas, como na Idade Média, homens e mulheres marchavam movidos pelo ódio, espumando pela boca, inundando as ruas com seu enxofre para defender o indefensável. O confronto foi inevitável: grupos de defesa da liberdade – sim, ainda precisamos defendê-la – saíram às ruas para combater a marcha supremacista e a coisa desandou pra pancadaria. Mas, afinal, é possível dialogar com quem tem o extermínio enquanto ideologia? Acredito que não!

No meio do quiprocó, o presidente Donald Trump, do alto de seu topete cafona, deu declarações absurdas condenando, pasmem, as duas ações dizendo que apenas uma delas tinha autorização para acontecer: a racista! O mundo caiu de pau, abismado, como se a xenofobia que Trump defende publicamente através de redes sociais, e politicamente através de proibições, não fosse também uma forma de racismo. Nada de novo na terra do Tio Sam.

Em terras tupiniquins, a coisa não é tão diferente. A estupidez verde-oliva escorre pelos flancos da terra de Santa Cruz. Jair Bolsonaro, por exemplo, foi condenado a indenizar em R$10.000,00 (dez mil reais) à deputada Maria do Rosário por conta da ofensa que não merece ser reproduzida por aqui. Depois da decisão, “fãs” do ignóbil e caricato deputado iniciaram uma campanha, idealizado por um dos filhos do pulha, para arrecadar dinheiro para o pagamento da indenização. O que passar dos dez mil, segundo Eduardo Bolsonaro, “será revertido para compra de livros do Ustra que serão distribuídos para crianças”. Sim, a anta verde-amarela fala do notório torturador do DOI-CODI e que seu pai, num misto de crime e ignorância, louvou em seu voto a favor do impeachment de Dilma Rousseff, torturada pelo abjeto Coronel. Que nojo, Brasil.

Não é de hoje que o teatro se levanta em nome da liberdade. Essa arte tem um histórico de lutas em defesa dessa musa caprichosa, desde os primórdios. Pois, afinal, não seria Dioniso um defensor de seus encantos? Cruel e debochado, o Deus do vinho conquistou cidades inteiras sem uma única arma, apenas através de cantos e tambores, do encanto e da hipnose causada por seu espetáculo libertário. Implacável com os inimigos, vide Bacantes, combateu com veemência aqueles que se opunham ou que ameaçavam o seu “livre-reinar”.

De Tebas pra cá, a coisa não mudou muito de figura. Faltam dedos para enumerar os artistas do palco que fizeram dessa mesma liberdade sua causa: atores, dramaturgos, cenógrafos… a lista é extensa e parece não ter fim. Sempre houveram homens e mulheres de teatro pelos séculos defendendo esse ideal, afinal nós, os artistas, sofremos na pele o resultado da ignorância e do preconceito. Basta lembrar que, por aqui, as atrizes eram submetidas a exames ginecológicos periódicos, como as moças do mangue, até os anos 50.

Diante desse cenário, lembrei-me de da intervenção feita por Bertolt Brecht no Congresso de Escritores em Defesa da Cultura, que aconteceu em Paris no ano de 1935. As palavras de Brecht soam como uma fagulha de luminosidade em meio a uma escuridão sem fim e, infelizmente, passados mais de 80 anos de seu pronunciamento, elas ainda soam absolutamente atuais nesse mundo que ainda pretende massacrar minorias em nome de um Deus Cifrão. Não se dialoga com fascistas, é evidente; no entanto, somente o conhecimento pode vencer a estupidez, por isso a urgência em soltar aos ventos as palavras do mestre alemão. Como o homem não era de brincadeira, o texto é razoavelmente grande, por isso destaco abaixo alguns trechos:

Pois cabe novamente aos artistas, sejam eles do teatro ou não, combater a barbárie em seu próprio leito.

“Camaradas:

Sem pretender dizer nada de particularmente novo, gostaria de falar alguma coisa sobre a luta contra aquelas forças que atualmente se mostram dispostas a afogar em sangue e lama toda a cultura ocidental, ou que ainda resta dela depois de um século de exploração (…) escritores e artistas sofrem na própria carne, ou na alheia, o horror do fascismo e estão em pânico, não tem condições além da experiência e do pânico, de combater esta abominação. Muitos acreditam que basta descrevê-la, sobretudo se um grande talento e uma cólera autêntica produzirem um retrato penetrante. A bem da verdade esses relatos são importantes. Estão acontecendo atrocidades e isso não pode ser. As pessoas são espancadas e isto não deve ocorrer. Não há o que debater: ataquemos logo de uma vez e detenhamos os perseguidores de um só golpe.

Camaradas, os debates são necessários.

(…)

Quando os crimes proliferam, tornam-se invisíveis. Quando as dores se tornam insuportáveis, não mais se ouvem os clamores. Quando um crime sobrevém como a chuva que cai, ninguém mais frita chega.

(…)

Por que a vida de milhões de seres, da maioria dos seres, é tão depauperada, tão destituída ou totalmente destruída?  Alguns dentre nós respondem: por selvageria. Acreditam estar vivendo uma terrível erupção, em uma parte cada vez maior da humanidade, de um fenômeno horripilante sem causas aparentes, que aparece de repente e, talvez, espera-se, também desapareça de repente. Os que assim respondem, naturalmente, se dão conta por si mesmos de que tal resposta é insuficiente. E também se dão conta de que não se pode naturalizar a selvageria, dando-lhe o caráter de força infernal invencível.

(…)

A selvageria não nasce da selvageria, mas sim dos negócios que dependem dela para existir.

(…)

Tenhamos compaixão pela cultura, mas primeiro tenhamos compaixão pelos homens! A Cultura será salva, se os homens forem salvos.

(…)

Camaradas, reflitamos sobre as origens do mal!”

Sim, é preciso compreender a origem do mal e muitas vezes ela está nos negócios que dependem desse mal para prosseguir, como bem disse Brecht, e não no próprio homem que a defende. Revidar a violência é necessário, no entanto, a tranformação se dá no plano da sensibilidade. Em nossas terras, por exemplo, os homens que deveriam olhar pelo povo precarizam o sistema único de saúde para favorecer as indústrias farmacêuticas e as cooperativas de saúde. E não faltam exemplos como este.

Fazer teatro é uma forma de acreditar no homem, em seu poder de transformação e principalmente em sua essência. O tetaro é também uma forma de reinventar os negócios, a política e, por que não, a própria vida. Sabemos que o ódio é fruto de uma construção, e sabemos também que é preciso desconstruir esse homem que defende o ódio através da arte e da sensibilidade.

Brecht, como tantos outros, encontrou no teatro o meio de ação para isso e fez de seu ofício uma luta incansável. Apesar de todo horror que nos escurece o horizonte, eu ainda estou com o alemão quando diz que “um autêntico militante na luta contra o fascismo precisa estar convencido da necessidade de acabar com a causa da barbárie”.

Pois cabe novamente aos artistas, sejam eles do teatro ou não, combater a barbárie em seu próprio leito: esteja ela no peito de um ser humano, nas ruas de uma cidade ou nos meios de produção.

Fazer teatro é lutar pela liberdade, sempre!

Tags: Bertolt BrechtCharlottesvilleCongresso Internacional de escritores em Defesa da Cultura Paris 1935intolerânciaTeatro

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