Uma das coisas mais difíceis no universo da música independente é encontrar o equilíbrio entre soar comercial, radiofônico e autoral. Em geral, os grupos conseguem encaixar seus trabalhos em duas destas categorias e, normalmente, sobra para a parte autoral ficar de fora desta equação. Pois foi com muita alegria que tive a oportunidade de conferir Marcando Território, EP dos curitibanos da Oh My Dogs.
O quinteto formado por Felipe Klimovicz (vocal), Arthur Wogram (guitarra), Felipe Brasil (guitarra), Jean Vialli (baixo) e João Balzer (bateria) surgiu em 2015 como um projeto originalmente em formato acústico. Agora, já em formato elétrico, a Oh My Dogs consegue com seu primeiro registro a façanha de organizar influências tão díspares como Red Hot Chili Peppers, Twenty One Pilots, Kings of Leon e O Rappa, por exemplo. Entre ler o que molda a identidade da banda e ouvir Marcando Território o ouvinte poderá notar que os músicos foram felizes ao amalgamar essas referências para criar sua própria personalidade musical.
Doses de angústia e insegurança caminham lado a lado com uma visão crítica de mundo e o desejo de autoafirmação.
É um trabalho bem complicado unir gêneros diferentes de maneira homogênea como eles fizeram. Sem cacofonias, o grupo coloca num mesmo quadrante o indie rock de “Fala Comigo”, sem dúvida a melhor faixa do disco, o reggae rock de “Deixa Eu Navegar” e “Sabiá”, o funk rock de “Contagem Regressiva”, o rock alternativo de “Maré” e o hardcore de “Conquistas e Fracassos”. Por mais absurdo que possa parecer ao leitor, eles conseguiram criar uma unidade no registro, que por mais transitório que tenham sido, você facilmente identifica o DNA da banda por trás de cada faixa.
A Oh My Dogs também não se limita quando o assunto são as temáticas apresentadas em Marcando Território. Doses de angústia e insegurança caminham lado a lado com uma visão crítica de mundo e o desejo de autoafirmação. O disco foi organizado de forma que o público dificilmente o ouça parado, já que as faixas possuem um tipo de urgência diferente, marcada pelos riffs cadenciados e refrãos marcantes.
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No entanto, algo escapa a este trabalho quase impecável de unir diferentes sonoridades, mesmo que a banda não recorra a clichês ou lugares-comuns. Dificilmente não evocamos as influências que cada um dos integrantes carrega (e que inseriram no registro). Em alguma medida, isso é reflexo tanto dessa veia mais pop assumida pelo grupo quanto das faixas delimitadas dentro de gêneros. Com isso, ao mesmo tempo em que o EP cria empatia mais facilmente com o público, também o torna fugaz.
É importante salientar que isto geralmente é reflexo da própria música pop, mas em nada interfere no fato que a Oh My Dogs tem todo o potencial necessário para, como dito no início, adentrar os players do público. Com canções fáceis de digerir, autorais e comerciais na medida certa, o quinteto curitibano está com a faca e o queijo na mão.