Escrevo-te uma carta. Busco, talvez ingenuamente, alcançar-te em teu silêncio como quem pede licença. Quero falar-te sobre o que anda acontecendo por estas bandas, onde me percebo irremediavelmente longe de ti, tão distante que às vezes tenho dificuldade de lembrar teus traços, teu tom de voz, tua suave delicadeza.
É triste perceber que o vazio que deixaste é hoje fato incontornável. Resta a mim acostumar-me e aprender a conviver com a tua ausência, hoje mais presente que as tuas lembranças. És um rastro, uma pegada, que aos poucos se torna vaga, como as linhas de uma obra de ficção que vão se apagando.
Por conta dessa certeza, alcanço a caneta e uma folha de papel, como quem faz um derradeiro esforço para se fazer ouvir, ou registrar. Recorro à minha caligrafia, hoje um tanto destreinada pelos excessos digitais, para talvez fazer-te perceber, daí de longe, que eu ainda penso em ti. Há saudade, e um tanto de nostalgia. Mas conforta-me saber que, um dia, tu estiveste aqui, perto de mim.
Escrevo-te uma carta. Busco, talvez ingenuamente, alcançar-te em teu silêncio como quem pede licença.
Se pudesse, te contaria que ando feliz por descobrir-me menos cheio de certezas, e ávido por viver um dia de cada vez, sem tanta pressa, porque tudo tornou-se tão relativo, bem mais leve. Essa leveza, de certa forma, tem me feito alguém diferente. Não sei se melhor do que aquele que um dia conheceste, mas com menos peso para carregar. A esta altura da jornada, isso me faz bem e gostaria muito que estivesses aqui para ver isso acontecer. Mas não estás. Resta-me aceitar.
Então, escrevo-te esta carta, que devo lançar ao mar do infinito no interior de uma garrafa, na esperança de que ela, em alguma esfera, te alcance. Tu foste e é tão importante, e eu queria-te muito aqui, perto de mim. Resta-me navegar e deixar que os bons ventos me guiem.