Se você é ou já esteve em Curitiba e viu por aí lambes em larga escala com fotos de pessoas fazendo ações corriqueiras, provavelmente esta era uma arte do Vantees (confira o perfil do artista no Instagram). Nascido em Jardim Alegre (PR), Estevan Reder tem lambe-lambes espalhados por cidades brasileiras e encontrou nos muros desgastados da rua a melhor forma de questionar no espaço público a ação do indivíduo.
Sua arte propõe a aproximação de pessoas anônimas, o estranhamento do comum e a representação no espaço-tempo da vida de outros. Conversamos brevemente com o artista sobre questões que permeiam sua expressão gráfica e o meio o qual ela habita.
Escotilha » Suas fotos são “flagrantes” de situações cotidianas centradas no corpo popular. Como você percebe esse corpo popular enquanto arte?
Vantees » É com o corpo que estabelecemos nossa primeira forma de comunicação. Ele é o começo e o final de toda comunicação. O corpo é a linguagem e, ao mesmo tempo, produtor de inúmeras linguagens com as quais o ser humano se aproxima de outros seres humanos, se vincula a eles, cultiva o vínculo, mantêm relações e parcerias. E fazer um recorte deste corpo manifesto que está em ação nas ruas e trazê-lo para o mesmo ambiente em que ele foi capturado faz com que a presença de sua imagem gere novos vínculos com o espaço urbano, tanto estético como social.
Como você enxerga a rua e por que identifica que lá é o melhor lugar para expor a sua arte?
Por ser um território em constante transformação. Um espaço de liberdade. Que deve ser consumido, explorado e manifestado. É um ambiente onde você precisa estar presente para haver alguma alteração. Ele estando vazio, gera uma ausência e é essa ausência que gera uma possibilidade de espaço possível para apropriação. A manifestação urbana ajuda a construir este território.
Dentro de uma galeria, a arte está “sã e salva” de interferências externas, o que rola de forma oposta na cidade… Como você se sente com relação às interferências que as pessoas que transitam nas ruas – e também outros artistas – fazem nos seus lambes?
Abrem portas para mundos perceptivos novos, criam novos olhares e ampliam o horizonte. Deixando a informação de sua presença em sua ausência. Creio que essas interferências urbanas convidam nós a uma fuga do nosso próprio corpo.
‘O que me atrai no anônimo é sua face profunda, seu lado invisível.’ Vantees
No que você está trabalhando agora? Vimos um projeto mais recente de pintura corporal pelo Instagram, qual é a ideia?
Estou trabalhando em dois projetos. Um deles é este envolto da pintura corporal e o lambe-lambe. Se chama ENTRE-TEZ, o qual estou realizando com meu irmão, Douglas Reder, que também é artista visual.
Unindo nossos trabalhos através do corpo, ele realiza as pinturas corporais nos corpos nus e eu entro com a fotografia e o lambe-lambe desses registros, criando uma experiência sensorial com o corpo e levando ela para as ruas. O projeto tem como objetivo final um mural em grande escala.
O segundo, está relacionado a “relocar“ as manifestações urbanas através da técnica desenvolvida pelo amigo e artista Willyams Martins, retirando os meus próprios lambes que estão na rua para outro suporte. Uma dessas obras foi exposta agora na última bienal de Curitiba.
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