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Home Crônicas Henrique Fendrich

O inferno é branco

porHenrique Fendrich
30 de maio de 2018
em Henrique Fendrich
A A
"O inferno é branco", crônica de Henrique Fendrich.

Imagem: Reprodução.

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Ele disse que o inferno era branco, um grande e invencível branco que tomava tudo ao redor. Não havia fogo, enxofre ou labaredas: somente o branco, por onde quer que se olhasse. Nós o ouvíamos com interesse, mas sem saber até que ponto poderíamos acreditar no que dizia. Sabíamos que aquele homem havia tido uma experiência extraordinária. A julgar pelos médicos, não era nem para estar vivo. Por sete minutos se acreditou que ele estivesse morto. Mas o homem sobreviveu e voltou à vida contando coisas, experiências que teve quando não se esperava que tivesse experiência nenhuma. Era o próprio Mito de Er que tínhamos diante de nós, personificado. Mas ele vinha de um lugar bastante diferente do Hades.

Aqueles sete minutos lhe pareceram infinitos. Durante todo o tempo, ele disse que permaneceu no meio do branco. Não havia pessoas e nem objetos. O branco, o branco, só o branco se estendendo. Ele tinha consciência de si, talvez ainda melhor do que se estivesse acordado. E então teve uma revelação de que aquela seria a sua eternidade, que aquela era a resposta para o enigma da morte, pelo menos a sua. Havia vida, ela continuava, mas era composta apenas pelo branco. Seu destino seria permanecer, até o fim dos tempos, preso no meio do nada. E aquela visão lhe pareceu tão terrível que ele quis fugir, mas para onde é que se foge quando se está no meio do nada?

Durante todo o tempo, ele disse que permaneceu no meio do branco. Não havia pessoas e nem objetos. O branco, o branco, só o branco se estendendo.

Sentiu como se rangesse os dentes, mas já não havia dentes, como também não havia corpo. Tudo o que havia era uma consciência atormentada, presa no meio do branco infinito. Ah, como faria bem se houvesse fogo por ali. Ele preferia ser consumido até o fim. O sofrimento do fogo é tão doloroso que faz esquecer de todo o resto. Se houvesse um único fogo por ali, ele disse, o branco ao redor não teria mais a mesma importância, porque ele também não estaria mais entregue a si mesmo e aos seus pensamentos. As chamas o impediriam de ter que refletir sobre os motivos que o levaram até aquele inferno. De certo modo, o fogo no inferno é uma caridade, um alívio.

Olhávamos admirados para o homem, com a sua curiosa filosofia. Se ele nos relatasse que avistou familiares já falecidos, que viu uma luz muito forte e que se sentiu inundado de um amor irresistível, que Jesus apareceu para ele e disse “Ainda não chegou a sua hora”, ou que, ao contrário, padeceu os piores castigos físicos, viu demônios e muitas pessoas que choravam desesperadas, nós poderíamos duvidar, e provavelmente duvidaríamos mesmo, mas creio que não ficaríamos tão impressionados como agora, com essa ideia de um inferno feito do nosso pensamento.

O branco, o eterno branco, continuou ele, era a pior condenação que existia, porque nem por um momento ele se esqueceria de quem era, nem por um momento se livraria do seu sofrimento moral. Nessa eterna solidão, nesse encontro assustador com seus fantasmas interiores, ele se consumiria pensando no amor que poderia ter sido dado e não foi.

Tags: brancoCrônicaeqmexperiência de quase morteInfernoMito de Er

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