Ok, confesso que talvez eu esteja avacalhando um pouco falando desta série. Isso porque Ginga: Nagareboshi Gin (algo como “Canino Prateado: Gin, a Estrela Cadente”) nunca foi lançada no Brasil. Na verdade, fora do Japão, este anime dos anos 80 tristemente fez sucesso apenas nos países escandinavos, como Finlândia e Suécia, onde até hoje possui um status cult semelhante ao de Cavaleiros do Zodíaco por aqui. E embora seja fácil encontrar na internet seus 21 episódios legendados em inglês (até um tempo atrás, tinha até no YouTube, mas parece que foram retirados), ainda desconheço alguma versão legendada em português.
Mas então, vale a pena treinar o inglês para dar uma chance a esta série? Bem, eis a resposta simples: Sim!
Baseada no mangá criado por Yoshihiro Takahashi, a história começa em uma pequena vila turística nas montanhas no Japão, que sofre a constante ameaça de ursos, em especial Akakabuto, um urso que, após ser ferido no sistema nervoso pelo caçador Gohei, passa a matar pessoas e animais inocentes, e nunca para de crescer. É neste contexto que nasce Gin, um filhote de Akita Inu e filho de Riki, o líder dos cães de caça de Gohei. Em um de seus confrontos com Akakabuto, porém, Gohei é gravemente ferido, e Riki é dado como morto. Gin então passa a ser treinado por Gohei ao longo dos seis primeiros episódios para se tornar um cão caçador de ursos.
É no episódio sete, porém, que Gin descobre um grupo de cães de caça abandonados que, paralelamente aos humanos, também luta contra os ursos da região. E é aí que a série muda seu ponto de vista dos humanos para os cachorros, permitindo-nos ouvi-los comunicando-se através de falas, embora aos ouvidos dos personagens humanos eles continuem apenas latindo. A partir deste ponto, Ginga passa a acompanhar a jornada de Gin conforme ele abandona os humanos para unir-se aos cães, que estão reunindo um enorme exército de cachorros de todas as partes do Japão para derrotar Akakabuto e os ursos que ele próprio tem reunido sob sua liderança, culminando em um incrível confronto final, no qual todos os personagens têm seus destinos definidos.
Pense em uma série animada que nunca te entedia e te marca para a vida, por mais ridícula e brega que possa ser (e esta tem cães ninjas canibais, então esteja avisado que ela pode ficar bem ridícula), ou por mais desleixada e ultrapassada que a animação às vezes seja. Uma animação japonesa que te empolga, te inspira e cumpre com as expectativas de tal forma que você não consegue tirar os olhos da tela enquanto assiste um episódio atrás do outro – isso é, contanto que você ponha em mente que, por mais que assim pareça, esta não é uma série infantil, e que algumas cenas podem conter muita sanguinolência. Eis Ginga: Nagareboshi Gin.
A série é capaz de tocar quem a assiste de um jeito único e especial, principalmente devido à pureza de sua história
Utilizando cachorros para contar uma história digna dos clássicos dramas japoneses de samurais (é difícil assistir Ginga sem se lembrar de filmes como Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa), a série nunca esquece, porém, quem são seus protagonistas, lidando com temas bastante pertinentes como exploração e abandono de animais. Ainda assim, Ginga não sai do seu objetivo principal, que é ser uma história sobre bravura e a passagem para a vida adulta.
O fato de ter cachorros como protagonistas também lhe dá um toque bastante original… E que cachorros! Ao longo de sua jornada, Gin vai conhecendo um cachorro mais incrível que o outro, todos com características bem pensadas que os tornam distinguíveis, não importa quantos sejam, e cada um empático à sua própria maneira, fazendo o espectador se conectar com eles e colocar-se nos seus lugares: Seja Ben, Cross, Smith, os irmãos Tora, Moss, Akame, Benizakura… E, claro, não podemos esquecer do próprio Gin. Os humanos também são bem marcantes, e mesmo os ursos, embora não falem uma palavra ao longo de todo o anime, são uma força a ser temida – e muito.
É violento? É. E quando os cães não estão se matando, quase sempre estão se xingando. Ainda assim, a série é capaz de tocar quem a assiste de um jeito único e especial, principalmente devido à pureza de sua história, que não se importa com o quão ingênua ela pode ser, desde que entregue todos os elementos épicos de uma clássica “jornada do herói”: um protagonista determinado e de bom coração, companheiros corajosos e leais, vilões assustadores, um pouco de comédia, um pouco de romance, muita luta, muita traição, e várias mortes tristes.
Uma pequena preciosidade que quase se perdeu (afinal, foi lançada no mesmo ano que Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, então teve que lidar com uma concorrência pesada na época), mas que ainda assim faz o espectador passar por emoções fortes, ora sorrindo, ora ficando de queixo caído e dizendo “Oh meu Deus! Oh não! Oh meu Deus!” – especialmente na batalha final. Chega a ser uma vergonha o quanto esta série foi desconsiderada… Fico somente na espera de que certo serviço de streaming resolva um dia lançar a série no Brasil, porque adoraria rever os episódios com legenda em português.