No dia 25 de outubro de 1968 foi lançado o álbum Electric Ladyland, de Jimi Hendrix, com o seu The Jimi Hendrix Experience. O cara já era um nome de peso no cenário mundial da música àquela altura. Mas não dá pra negar que canções como “Voodoo Chile”, “Crosstown Traffic” e “All Along The Watchtower” realçaram a áurea deste ícone sagrado do rock’n’roll. Foi o primeiro disco da banda a chegar ao topo da parada nos EUA.
Diz a lenda que Hendrix teria ficado desconfortável com a capa cheia de mulheres nuas. O guitarrista preferia uma foto colorida da banda sentada na escultura “Alice In Wonderland” no Central Park, em Nova Iorque. Alguns acreditam que isto se devia ao conservadorismo demasiado dos norte-americanos, percebido pelo ícone. O fato é que apenas a versão vendida no mercado do Reino Unido trazia na capa a magnífica foto com as 19 mulheres nuas.
Como o tempo sempre cumpre vitoriosamente a missão de esmagar as bobagens moralistas, hoje, é possível ver que a capa jamais seria capaz de prejudicar ou favorecer a obra. Ninguém estaria menos convencido de que Electric Ladyland é um dos grandes discos oferecidos pela indústria musical à humanidade. Ponto pra Hendrix, de qualquer forma, porque deu ao mundo riffs e solos essenciais a qualquer ouvido, além de toda a experiência mágica transmitida pelas harmonias, timbres e letras.
Parece que Hendrix não fugiu da normalidade dos gênios: impossível trabalhar junto, mas, pela capacidade de criar coisas que ninguém consegue imaginar, impossível resistir.
O baixista Noel Redding disse uma vez que no estúdio de gravação havia tantas pessoas reunidas que chegava ao ponto de ninguém conseguir se mexer. “Era uma festa, não uma sessão de gravação”, disse Redding, que mais tarde juntou-se ao grupo de pessoas que teriam alguns “probleminhas” de relacionamento com o guitarrista. Hendrix tinha o costume de convidar várias pessoas às sessões, e isso atrapalha muito a concentração, para a maioria dos músicos.
E de fato é mesmo possível ouvir as vozes de alguns convidados de Hendrix no início da faixa “Voodoo Chile”. Não a versão cuja intro tem um whah-whah maravilhoso (“Voodoo Child [Slight Return]”), mas da versão blues. Parece que Hendrix não fugiu da normalidade dos gênios: impossível trabalhar junto, mas, pela capacidade de criar coisas que ninguém consegue imaginar, impossível resistir.
Se estivesse vivo, Jimi Hendrix completaria 76 anos em novembro próximo. Certa vez li um texto da Eliane Brum que aborda a ressignificação das palavras “velho” e “idoso”, e, entre outras coisas, provoca uma reflexão sobre a resistência ao envelhecimento. Na minha leitura, acabei seguindo até este questionamento: morrer jovem, cheio de vitalidade, desejado e amado, ou, ser esquecido, abandonado, velho e moribundo em alguma casa de repouso?
A resposta que escolheremos, possivelmente, será algo que tente se esquivar dos extremos citados. Mas, isso muda o fato de que no meio destas extremidades e nas adjacências se encontre algum oásis. Trabalho, família, religião, amigos, drogas, diversão (im)prudente e (des)organização: quais destes elementos não se torna opositor à existência, quando demasiados? E o tempo, como acontece em uma música, apenas acontece.
Talvez Hendrix tenha deixado uma pista em Electric Ladyland, nas variações rítmicas, fusões, confusões, ordem, experimentalismo, enfim, em tudo isso acontecendo e interagindo dentro de alguns minutos, exprimindo o som da vida, num curto período, mas, como diria o poeta, eterno enquanto dura. Após Electric Ladyland, Hendrix passaria os dois últimos anos de vida tentando montar uma nova banda. Muitas canções ficariam avulsas, sem álbum, e, o mundo, um pouco mais chato.
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