Não é de hoje que o canal AMC chama a atenção pela qualidade estética e narrativa de suas produções. Mad Men e Breaking Bad foram séries que marcaram época com seus anti-heróis e personagens complexos, sendo considerados dois dos maiores dramas da história da TV norte-americana.
Há ainda o carro-chefe do canal: The Walking Dead. Responsável por grande parte da verba publicitária que entra nos cofres da emissora, o sucesso comercial do seriado é que tem permitido a aposta em outras boas produções. O problema é que a maioria das apostas da AMC acabou fracassando. Rubicon e Low Winter Sun não duraram mais que uma temporada; The Killing sobreviveu até a terceira, mas sempre apresentando resultados irregulares; Hell on Wheels e Turn, apesar de estarem no ar, não atraíram do público e da crítica a mesma atenção.
Aparentemente Halt and Catch Fire, seriado que estreou em 2014 e recentemente retornou em sua segunda temporada, é quem tem maior potencial para dar fôlego a emissora. Personagens complexos e com episódios bem construídos, boas atuações, e direções de arte e fotografia primorosas são os principais pontos que fazem a série saltar aos olhos.
Personagens complexos e com episódios bem construídos, boas atuações, e direções de arte e fotografia primorosas são os principais pontos que fazem a série saltar aos olhos.
Criada e escrita por Christopher Cantwell e Christopher C. Rogers, a história por trás de Halt and Catch Fire, assim como seus personagens, é complexa. O seriado acompanha as conturbadas vidas de Joe MacMillan (Lee Pace, o Ned de Pushing Daisies), Gordon Clark (Scoot McNairy, do filme Garota Exemplar) e Camerom Howe (Mackenzie Davie, do filme Namoro ou Liberdade).
A série é ambientada nos anos 1980, época em que o mundo acompanhou o florescer de empresas que tornaram-se gigantes da tecnologia, como Microsoft e Apple, e na qual a IBM era rainha quase solitária dominando a venda de hardwares e softwares.
Com uma premissa relativamente simples, mas cheia de oportunidades para o desenvolvimento dramático, Halt and Catch Fire retrata como um grupo de pessoas que trabalham em uma pequena empresa de informática no Texas – a Cardiff Electric – decidem fazer, através de um processo de engenharia reversa, um novo computador capaz de disputar espaço com a gigante IBM.
Joe MacMillan é um executivo de vendas que possui uma lábia incrível. Oriundo da IBM, ele chega na Cardiff Electric com a promessa de revolucionar o departamento de vendas fazendo com que o número de equipamentos vendidos cresça. MacMillan se assemelha muito a Steve Jobs na postura, na fala e na forma de pensar. Entretanto, além de desvios de caráter possui grandes dilemas que são desenvolvidos ao longo da trama, como a má relação com seu pai e mesmo sua sexualidade.
MacMillan encontra em Gordon Clark, um talentoso engenheiro de computadores, a pessoa ideal para dar início ao seu plano de crescer profissionalmente. Acontece que o talento de Clark quase sempre é posto de lado. Muito disto acontece pela dificuldade do personagem em lidar com medo do fracasso, tendo já vivido uma experiência não muito agradável no início de sua carreira. Para que os planos saiam do papel, eles vão atrás de Camerom Howe, uma jovem prodígio de apenas 22 anos, em quem eles depositam a esperança de que possua o ímpeto necessário para que o projeto consiga fluir.
Não são somente os três protagonistas que impressionam. Os coadjuvantes como Donna Clark (Kerry Bishé, de Argo) e John Bosworth (Toby Huss, de Cowboys & Aliens) têm histórias bem desenvolvidas ao longo da primeira temporada e com arcos narrativos complexos, tornando-os pontos chaves na trama. E para completar, 4 episódios são dirigidos pelo argentino Juan José Campanella, de O Segredo dos Seus Olhos, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010.
Uma importante dica: o seriado utiliza muitos termos técnicos. Halt and Catch Fire não se esforça em entregar conteúdo mastigado ao espectador. Os diálogos são repletos de terminologias muito específicas da informática, de forma que, se você não prestar atenção, pode perder detalhes importantes da narrativa. E, ao contrário do que possa parecer, isso apenas torna o programa mais interessante. Confira o trailer.