Longe do já saturado cenário de excessos do rock anglo-americano do começo dos anos 70, surgiu o nome de um outsider fazendo música tão boa quanto qualquer banda de rock “ocidental do primeiro mundo”, mas que não deixava de lado suas raízes latinas. Enérgico, cabeludo, hippie e maluco beleza. Sim, a descrição até que combina com um rockstar metido a Jim Morrison, Mick Jagger ou Jimi Hendrix, mas a figura de Carlos Alberto Santana Barragán vem das surpreendentes e tropicais terras mexicanas.
Tudo bem que a cultura da América daqui de baixo já tinha dado sua contribuição ou feito sucesso com o rock e seus derivados em momentos anteriores. Nomes, como o de Ritchie Valens (conhecido pelo hit “La Bamba”, do fim dos anos 50) ou mesmo o tropicalismo dos Mutantes, já haviam deixado sua marca nas páginas da música internacional. Mas isso não diminui os feitos de Santana, que obteve grande reconhecimento com sua enérgica música, vendeu milhões de discos e é figura sempre presente nas listas de melhores guitarristas da história. Carlos Santana foi capaz de unir rock e latinismo numa só coisa. Santana é energia dançante. É salsa e tempero caliente do sangue latino no meio de um acorde de blues.
Radicado nos Estados Unidos e ao lado de sua banda homônima, “Santana”, foi ele o responsável por dar popularidade e visibilidade à vertente do rock’n’roll latino, sempre mesclando solos de tirar o fôlego e arranjos intensos com a vitalidade dos ritmos da América Latina e sua percussão sempre em bastante evidência.
Formada em 1967 na Califórnia, a banda que acompanhava Santana gravou seu disco de estreia dois anos mais tarde (Santana), mas foi só com a apresentação no histórico festival de Woodstock, em agosto de 1969, que o conjunto ganhou fama e ficou conhecido pelo grande público. Na oportunidade, a performance da canção “Evil Ways” entrou para a história como um dos pontos altos do festival e deu a Santana e seus companheiros o empurrão necessário para fazerem sucesso no cenário do rock do fim da década de 1960 e início de 70.
Diferentemente do primeiro disco, em que o blues e o que convencionou-se a chamar de “rock clássico”, dialogam de maneira bem marcada com os ritmos tropicais numa verdadeira “fritação latina”, o segundo lançamento da banda de Santana – Abraxas -, de 1970, já parte para uma vertente mais experimental e psicodélica. É neste álbum que estão presentes sucessos como “Black Magic Woman”; “Oye Como Va” e “Samba pa Ti”.
Formada em 1967 na Califórnia, a banda que acompanhava Santana gravou seu disco de estreia dois anos mais tarde (Santana), mas foi só com a apresentação no histórico festival de Woodstock, em agosto de 1969, que o conjunto ganhou fama…
Já o terceiro lançamento, Santana III, de 1971, talvez seja o trabalho da fase clássica de Santana e sua banda em que o latinismo tropical apareça com mais evidência, muito por conta da intensa percussão dos tamborins e das congas presentes em quase todas as faixas.
O disco, mais uma vez, se constrói baseado no flerte com o psicodelismo e na miscelânea sonora composta por vigorosos solos de guitarra e a presença de teclados que contribuem para uma aproximação com o blues e o southern rock. Destaque para as empolgantes “Guajira” e “Para los Rumberos” cantadas em espanhol por Santana e seus companheiros de banda que, com esse lançamento, se despediram da formação original do sexteto que continha: Gregg Rolie (teclados e vocais); David Brown (baixo); Michael Shrieve (bateria); Michael Carabello (percussão); José Areas (percussão), além do próprio Santana.
Após isso, o mexicano lançou o ousado Caravanserai em 1972, disco com um caráter ainda mais experimental que os anteriores e que apostou numa aproximação forte com o jazz, com faixas longas e instrumentais. No entanto, em termos de sucesso, naquele ano, o grande feito de Santana foi ter gravado um álbum ao vivo em parceria com o baterista de funk norte-americano Buddy Miles, conhecido por ter acompanhado ninguém menos do que Jimi Hendrix no último ano de carreira deste último. Carlos Santana & Buddy Miles! Live! é fruto do registro de um show no Havaí, que desfila pérolas de uma enérgica apresentação em que o improviso e a fritação rolaram soltas.
https://www.youtube.com/watch?v=ti17-nAW46U
Ainda na década de 70 e nas seguintes, o mexicano lançou outros importantes álbuns como Amigos (1976); Moonflower (1977); Zebop! (1981) e Supernatural (1999). Hoje, com sete décadas de vida recém-comemoradas, Santana continua na ativa levando seu rock latino para um público que reconhece seu talento tanto em terras tropicais quanto nos Estados Unidos e na Europa. O povo mexicano e toda a América Latina podem, portanto, se orgulhar de terem na figura de Santana, um dos maiores nomes da história do rock.