• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Crônicas Henrique Fendrich

A hora da merenda

porHenrique Fendrich
5 de junho de 2019
em Henrique Fendrich
A A
A hora da merenda, crônica de Henrique Fendrich

Imagem: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Terça-feira era o dia. A professora entendia a gravidade daquele momento e soltava os alunos para o recreio cinco minutos antes do habitual. É que assim eles talvez escapassem da grande fila formada diante da cozinha do colégio. Era apenas às terças que o número de alunos querendo comer merenda se tornava tão grande a ponto de se formar uma fila. A razão é muito simples: naquele dia, a merenda era sucrilhos com leite. E era uma coisa tão incrível que eles dessem esse manjar de graça que todo mundo queria aproveitar para comer. Por isso, formavam-se grandes filas e a professora se via obrigada a soltar os alunos antes do previsto, até porque não havia mais clima para se pensar em nada além dos sucrilhos.

Não sei, o governo devia estar vivendo um momento particularmente bom, do contrário não ofereceria comidas tão boas para as crianças. Não era isso o que costumavam oferecer. Nos outros dias, por exemplo, tinha macarrão com sardinha. E eu era uma das pessoas que tentavam separar o macarrão da sardinha, medida que pouco adiantava, pois os dois estavam sempre tão misturados que o próprio macarrão – oh, absurdo! – ficava com gosto ruim.

Naquele dia, a merenda era sucrilhos com leite. E era uma coisa tão incrível que eles dessem esse manjar de graça que todo mundo queria aproveitar para comer.

Um dia que fazia certo sucesso – nada, é claro, que se compare aos sucrilhos – era as sextas-feiras, quando tinha Toddynho com bolacha Maria. Era o único dia que tinha alguma bebida acompanhada da comida, embora não se possa dizer que fosse muito saudável esse tipo de lanche. Às vezes tinha algumas sopas, principalmente no inverno. Mas houve uma época em que, provavelmente, a crise apertou, pois o governo dava banana seca de merenda. Aquilo era uma coisa de que ninguém gostava, só pegava quem não tinha levado nada para comer, e também quem não tinha dinheiro para comprar algo na cantina.

Havia uma cantina. Para lá, iam as crianças que tinham uma melhor condição financeira. Eu passei a ir lá às sextas-feiras. Com um real, eu podia comprar um pastel de carne e uma “laranjinha”, isto é, um refrigerante de laranja. Era servido na garrafa mesmo e, se você devolvesse o casco depois, tinha direito a alguma guloseima de 10 centavos, como um torrão ou – meu favorito – um “moranguete”. Houve a época dos “Tazos”, aqueles brindes que vinham dentro dos salgadinhos da Elma Chips e que transformaram o colégio em um antro de jogatina. Embora minha mãe recomendasse que eu comprasse alguma coisa mais saudável, eu cedia à influência do meio e comprava um salgadinho, unicamente pelo Tazo, provando o acerto da campanha publicitária.

Mas lá na cantina, é claro, não tinha sucrilhos, e por isso até os mais afortunados entravam na fila para comer um pouco às terças-feiras, como se jamais tivessem uma oportunidade assim na vida. As mulheres que nos serviam eram merendeiras, mas nós as chamávamos de “serventes”, porque usavam o mesmo uniforme, e talvez algumas fizessem mesmo as duas coisas. Reclamávamos se não colocavam a quantidade de sucrilhos que achávamos mais justa.

Nos outros dias, nos dias normais, eu era um dos poucos que ainda trazia lanche de casa. Era pão, pão com geleia, comida simples. Acho que levei pão até a sétima série, quando eu – vejam só o que faz a adolescência – sentia vergonha do pão que eu trazia, e teve dias em que passei o recreio sem comer nada, pois não encontrei ocasião de comer o pão sem ser visto. Comia então no caminho de volta para casa, insensível ao fato de ser o lanche mais saudável.

Nessa época já não tinha mais sucrilhos. O que é bom dura pouco, sempre. Acabaram com essa mordomia e nunca mais as professoras se viram forçadas a nos soltar com tamanha antecedência.

Tags: cantinacolégioCrônicaescolalaranjinhamerendarecreiosucrilhos

VEJA TAMBÉM

"Drama da mulher que briga com o ex", crônica de Henrique Fendrich.
Henrique Fendrich

Drama da mulher que briga com o ex

24 de novembro de 2021
"A vó do meu vô", crônica de Henrique Fendrich
Henrique Fendrich

A vó do meu vô

17 de novembro de 2021

FIQUE POR DENTRO

O escritor marfinense GauZ. Imagem: Alexandre Gouzou / Reprodução.

No sensacional ‘De Pé, Tá Pago’, GauZ discute as relações entre capitalismo e imigração

5 de setembro de 2025
Chris Evans, Dakota Johnson e Pedro Pascal protagonizam novo filme de Celine Song. Imagem: A24 / Divulgação.

‘Amores Materialistas’ e a nova cara da comédia romântica

5 de setembro de 2025
Shirley Cruz protagoniza o novo longa-metragem de Anna Muylaert. Imagem: Biônica Filmes / Divulgação.

‘A Melhor Mãe do Mundo’ combina melodrama e realismo cru

4 de setembro de 2025
Julia Dalavia e Jaffar Bambirra protagonizam a adaptação do Globoplay para obra de Raphael Montes. Imagem: Globoplay / Divulgação.

‘Dias Perfeitos’ expõe a violência obsessiva e confirma Raphael Montes como cronista do horror brasileiro

3 de setembro de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.