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‘Hoje É Dia de Maria’ é um sonho na televisão brasileira

'Hoje É Dia de Maria', com uma linguagem teatral e lúdica, retrata o Nordeste, seus costumes e a história de um povo esquecido pela televisão.

porRodrigo Lorenzi
9 de junho de 2015
em Televisão
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'Hoje É Dia de Maria' é um sonho na televisão brasileira

Imagem: Reprodução.

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A frase que intitula este  post não é minha, mas do ator Daniel de Oliveira, em entrevista ao programa Altas Horas, em 2005, e talvez seja o que melhor define uma das mais belas – senão a mais bela – produções já feitas pela Rede Globo. E sempre que alguém disser que não há vida inteligente na televisão brasileira, basta lembrá-lo da existência de Hoje É Dia de Maria e de sua importância na história da teledramaturgia.

Exibida originalmente há dez anos e reprisada semana passada, no encerramento do Festival Luz, Câmera, 50 anos, da Globo, Hoje É Dia de Maria é uma história sobre a vida, mostrada por meio de uma linguagem de sonhos, através dos olhos de uma menina de 10 anos. Com elementos folclóricos e da cultura popular do nosso país, Maria visita um Brasil mágico, porém dolorosamente palpável, mesclando elementos mitológicos para nos mostrar o mundo e as atrocidades que existem nele. Embora seja vendida como uma produção infantil, a minissérie não é para crianças, sendo capaz de acessar os mais profundos sentimentos dos telespectadores. Inspirada no texto do dramaturgo Carlos Alberto Soffredini, a adaptação foi feita por Luiz Fernando Carvalho (Lavoura Arcaica, Meu Pedacinho de Chão) e por Luís Alberto de Abreu, com direção geral de Carvalho.

Lá longe, num lugar ainda sem nome, havia uma pobre família desfeita. E era uma vez Maria (Carolina Oliveira), filha do Pai (Osmar Prado) e de Ceição (Juliana Carneiro da Cunha), mulher que morre por causa da vida dura que levava no sertão. O Pai resolve se casar novamente, mas Maria logo descobre que a Madrasta (Fernanda Montenegro) é uma mulher perversa, que a seduziu com mel para depois lhe dar o fel. A menina, então, decide fugir de casa e seguir seu sonho de chegar nas franjas do mar. Pela estrada do País do Sol a Pino, onde a noite nunca chega, Maria faz um longo passeio pelos contos populares brasileiros. Em sua viagem, se encontra com inúmeros personagens fantásticos e é amparada pela imagem de Nossa Senhora da Conceição. Entre os personagens, Maria cruza com o diabo Asmodeu (Stênio Garcia), que depois de muitas tentativas, lhe rouba a infância. Ela se transforma numa mulher adulta (Letícia Sabatella), se apaixona pelo Pássaro (Rodrigo Santoro), lida com a morte de seu pai e ingressa numa companhia de teatro.

Assistir a Hoje é Dia de Maria é fazer uma passeio pelo que há de mais belo e triste em nosso país.

Hoje é Dia de Maria entrega diversas metáforas em sua narrativa. Talvez a mais óbvia seja a jornada do herói (já vista em produções voltadas ao público infantil, como O Mágico de Oz e Alice no País das Maravilhas), mas a gama de temas presente em seu texto é de uma densidade poucas vezes vistas na televisão aberta brasileira. Já em sua estreia, Maria não foge apenas da fome e da seca, mas da pedofilia, sendo abusada pelo próprio pai. Em outra situação, vemos Maria perder a infância, que tanto pode ser entendida como a passagem de menina para mulher, como pela obrigação de crescer em um mundo tão duro. Em um das cenas mais inspiradas, Maria se torna moça cedo demais, quando acontece sua primeira menstruação às margens de um rio. Assim, ela acorda, já adulta, sem entender como podia ter corpo de mulher e alma de menina.

Hoje É Dia de Maria mostra a fantasia para realçar o realismo. De forma poética e teatral, Luiz Fernando Carvalho questiona a realidade do sertão brasileiro, mostrando os sem-terra, os que morrem deixando dívidas (sendo espancados por cobradores que insistem em reclamar a dívida ao morto até que algum parente apareça), os mendigos, os camponeses, os meninos carvoeiros, os retirantes e os saltimbancos, que levam arte onde não há mais nenhuma alegria. Extremamente colorida e musical, a minissérie destaca a violência doméstica, o êxodo escolar, a exploração infantil e o abandono familiar, mas é necessário um olhar atento para descobrir todas as camadas presentes na obra.

Entre diversos temas que encantam na minissérie, está a pluralidade cultural. Durante os oito episódios que formam a primeira jornada de Maria, vemos os índios, os negros, o português, os caboclos, os sertanejos, as procissões, as romarias, tudo embalado por danças e canções típicas do Brasil, sem esquecer das expressões de linguagem. Num lugar tão enorme como o Brasil, onde a língua é mais um artifício utilizado como mecanismo de exclusão, a minissérie exalta a beleza do nosso idioma e suas maravilhosas variações. Assistir a Hoje É Dia de Maria é fazer uma passeio pelo que há de mais belo e triste em nosso país.

Os cenários, propositalmente artificiais, foram feitos numa grande cúpula, onde era o palco principal do Rock in Rio III, transportado para o Projac. Com direção de arte de Lia Renha, as cenas eram rodadas em 360 graus, exigindo de toda a equipe um trabalho extremamente cuidadoso. Nada foge do tom em Maria e tudo parece funcionar maravilhosamente bem.

Carolina Oliveira (indicada ao Emmy Internacional como melhor atriz) impressiona pela sua atuação. A menina, que nunca havia atuado, parece carregar toda a tristeza do mundo em seus olhos. Letícia Sabatella parece à vontade para interpretar personagens lúdicos, assim como Rodrigo Santoro, que tem a oportunidade de mostrar todo seu talento como ator. Daniel de Oliveira e Inês Peixoto não ficam atrás, emocionando o público cada vez que aparecem em cena.

Mas o que mais chama atenção é que todos os atores, tanto os da nova geração quanto os veteranos, têm  a oportunidade de mostrar seu talento. Fugindo das amarras dos roteiros das novelas, que em boa parte de suas narrativas não exigem uma interpretação visceral, Hoje É Dia de Maria consegue nos presentear com atuações dignas de se aplaudir de pé, trazendo toda a energia teatral para dentro da TV, num dialogismo que se torna inesquecível. Assistir a Fernanda Montenegro, Osmar Prado e Stênio Garcia justifica ter um televisor em casa.

Com enfoque no folclore e na cultura popular, algo ignorado na televisão (ou, muitas vezes, estereotipado), a obra foca na literatura de cordel, regionalista e fantasiosa. Ainda, coloca o nordeste em destaque, explorando de forma respeitosa toda a cultura nordestina e seu povo.

Em sua segunda temporada (exibida em outubro de 2005), Maria cai na boca do gigante (ah, o capitalismo) e acaba perdida no meio da cidade grande, na realidade do mundo. Embora seja muito mais musical, a segunda fase mostra Maria sem casa, sem sua família, andando sem rumo pelas esquinas da cidade. A menina, com fome, olha para uma vitrine de frangos, mas não pode comprar nenhum. Em nosso mundo real, cruzamos com diversas Marias, mas nunca damos atenção ao seu dia. “Aqui nesta cidade, Deus precisava de um céu e também de um inferno, mas criou um só lugar. Inferno e céu num só lugar. Criou, em pouco tempo, o que agora é o paraíso. Para os que não tem abrigo, funciona com inferno, para os miseráveis e para os mendigos”, cantam os personagens.

Além disso, Carvalho parece mandar um recado a todas as emissoras que excluem atores veteranos, substituindo-os pelos mais jovens. Ao enferrujar, uma boneca velha que já havia feito muito sucesso, é jogada no lixo. “Sou dos tempos das velhas cantigas de amor, mas eu já não sou mais tão bem quista, já não tenho mais quem me aplauda e quem me assista”, cantarola.

No coração de Maria mora a inocência e seus olhos insistem em ver o colorido num mundo cinza. São produções como essa que encerram a velha discussão sobre o lugar da arte na televisão, esse instrumento tão maligno. Hoje É Dia de Maria sempre será um mel em meio a tanto fel presente em nossa grade de programação. Deliciosamente bem escrita, a obra parece ter sido costurada de tão bela, com diálogos que ficam cravados na memória por muito tempo.  E se você ainda não teve a oportunidade de assistir, as duas jornadas de Maria estão disponíveis em DVD.

E me desculpe se na história pesa a tristeza. Mas nessa melancolia há um quê de beleza, de amor errado e sincero… mas não tarda a alegria! Só que por hoje chega. Fecha a janela dos olhos, dorme e sonha. Que a noite seja risonha e outro dia a gente continua. Quando cair o Sol, chegar a noite e suspender a Lua.

Um viva para todas as nossas Marias!

Tags: BrasilCarolina OliveiraCríticaCrítica de SeriadosCulturaFolcoreHoje é Dia de MariaLuiz Fernando CarvalhoMinissérieNordesteRede GloboSertão

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