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Do outro lado do discurso

porFrancisco Mallmann
21 de julho de 2015
em Teatro
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No dia 2 de dezembro de 1970, o filósofo francês Michel Foucault realizava sua aula inaugural no Collège de France, publicada com o nome de A Ordem do Discurso. Nessa ocasião, se empenhou em esclarecer o questionamento que assim foi apresentado: “O que há, enfim, de tão perigoso no fato de as pessoas falarem e de seus discursos proliferarem indefinidamente? Onde, afinal está o perigo?”.

Antes de se lançar propriamente ao tema e de apresentar essa questão, Foucault diz querer, naquele momento, “em vez de tomar a palavra”, “ser envolvido por ela e levado bem além de todo começo possível”.  Dessa forma, segundo ele, “em vez de ser aquele de quem parte o discurso” ele se apresentaria como “o ponto do seu desaparecimento possível”, porque “bastaria” que as palavras fossem encadeadas por essa “voz” que o “precede”.  A proximidade, o tom quase confessional com que o autor “discursa sobre o discurso” é o recorte que aqui interessa (uma parte muito ínfima desse trabalho que é bem mais vasto e se dedica a temas como o “desejo de verdade”, o “desejo de saber” relacionados ao discurso e à exclusão nos universos de pesquisa do autor, tais como a loucura e a sexualidade).

É a partir de algumas considerações presentes nesse texto que eu gostaria de olhar para o espetáculo A Volta, dirigido por Paulo Alves, que também está no elenco junto com Rosana Stavis e Sílvia Monteiro.

A figura de uma Palestrante, presente na montagem, que se sente apta a discorrer sobre qualquer assunto, dos abstratos aos cotidianos, propondo entrelaçamentos sofisticados com elementos de áreas distantes, com a veemência de uma especialista, é o motivo pelo qual a relação entre a peça e o texto de Foucault é feita. Essa mulher, a quem tema algum é desconhecido, é apresentada pelas duas atrizes que ao alternarem o papel acabam por instaurar, além de tudo, a ideia de um “duplo”, dotado de dubiedade e cumplicidade – vozes que, além de “precederem”, se intercalam e se confluem, fazendo parecer não uma opinião isolada, mas um posicionamento de “vários”.

A relação entre o discurso e quem o profere, a inquietação causada por ele, são questões presentes na peça que são tencionados sempre em relação à trajetória dessa mulher (que foi inspirada em Stella Adler). Sobre isso, Foucault diz: “Existe em muita gente, penso eu, um desejo semelhante de não ter de começar, um desejo de se encontrar, logo de entrada, do outro lado do discurso, sem ter de considerar do exterior o que ele poderia ter de singular, de terrível, talvez de maléfico.

Há uma mesma inquietação: inquietação diante do que é o discurso em sua realidade material de coisa pronunciada ou escrita; inquietação diante dessa existência transitória destinada a se apagar sem dúvida, mas segundo uma duração que não nos pertence; inquietação de sentir sob essa atividade, todavia cotidiana e cinzenta, poderes e perigos que mal se imagina; inquietação de supor lutas, vitórias, ferimentos, dominações, servidões, através de tantas palavras cujo uso há tanto tempo reduziu as asperidades”.

“A trajetória da figura apresentada em A Volta parece expor o fato de que, antes de existir a exterioridade de um discurso, há um processo interno bastante conflituoso e tão potencialmente danoso quanto o é aquilo que acaba por ser compartilhado.”

O ofício de palestrar acaba por levantar questões mais amplas que o próprio conteúdo em si: o plágio, a legitimidade de quem fala e o que fala, as consequências e os efeitos que um pronunciamento tem, a perenidade que posicionamentos e opiniões assumem em um contexto de velocidade e extremismos e os elementos históricos, políticos, sociais e morais que as palavras passam a carregar (levantando nesse tópico, especialmente, a responsabilidade, a força e a expressividade, conscientes ou não, que os discursos têm).

A trajetória da figura apresentada em A Volta parece expor o fato de que, antes de existir a exterioridade de um discurso, há um processo interno bastante conflituoso e tão potencialmente danoso quanto o é aquilo que acaba por ser compartilhado – um “fenômeno” inevitável, ainda que ocorra em diferentes circunstâncias e intensidades: pensar sobre, falar sobre, para então, novamente, pensar sobre, falar sobre e assim constituir um processo cíclico cujas fases não ocorrem dissociadas e sem desestabilização e dor, como revela a peça.

Essa mulher, que em um movimento de autocrítica se intitula “mentirosa” e “fraudulenta”, “porque tudo sabe”, se torna solitária – uma condição que não indica fragilidade e nem se apresenta como contraposição às opiniões firmes, uma condição aparentemente tão sem ternura como uma posição radical, uma condição que se revela complexa tal qual um posicionamento extremo às vezes é. Assim, é feita uma abertura para a compreensão de que “qualquer consideração” é igualmente falsa e insuficiente quanto o entendimento sobre “qualquer assunto” pode ser. A veracidade de um discurso é tão questionável quanto o tema do qual ele se faz meio e, bem por isso, uma possibilidade de alteração – usar as palavras para “lutar, servir, vencer, ferir, dominar…”. Aplausos e bombas, de alguma maneira, parecem produzir sonoridades semelhantes nesse lugar.

Serviço

Onde: Centro Cultural SESI Heitor Stockler de França – Av. Marechal Floriano Peixoto, 458 – Centro;
Quando: Até o dia 2 de agosto. Sextas e Sábados, às 20h; Domingos, às 19h;
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada).

Tags: A VoltaCasa Heitor Stockler de FrançaCentro Cultural SESICrítica TeatralMichel FoucaultPaulo AlvesRosana StavisSílvia MonteiroTeatroTeatro Curitibanoteatro em curitibateatro paranaense

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