ANetflix tenta, frequentemente, repetir o sucesso de La Casa de Papel e Dark, cujas estratégias envolviam incentivar os públicos locais. Com Alma, produção espanhola que possui 9 episódios em sua primeira temporada, a plataforma de streaming tentou o mesmo.
A imprevisibilidade da audiência é um tema a ser estudado. Se nos países de língua inglesa a série (com o título The Girl in the Mirror) não empolgou, o mesmo não pode ser dito, por exemplo, do Brasil. Aqui, Alma ficou entre as produções mais assistidas.
Entre Premonição, A Maldição da Residência Hill e Dark, o seriado criado por Sergio G. Sánchez (roteirista de O Orfanato) tem bons momentos, mas é um tanto problemática. A trama segue a vida de um grupo de jovens que estão nas Astúrias curtindo os momentos que antecedem a entrada na universidade.
Entre eles há uma certa tristeza, pois sua amiga Lara havia falecido meses antes, após enfrentar um severo câncer cerebral. No retorno da viagem, sofrem um grave acidente que ceifa a vida de vários deles e deixa sequelas nos que permanecem vivos.
Entre Premonição, A Maldição da Residência Hill e Dark, o seriado criado por Sergio G. Sánchez (roteirista de O Orfanato) tem bons momentos, mas é um tanto problemática.
Alma (Mireia Oriol), protagonista da série, perde a memória após o acidente, e tenta recuperar sua identidade para entender o que está acontecendo. Sua amnésia é grave, fazendo a garota se preocupar, convivendo com uma sensação de estar cercada de pessoas estranhas.
Alma começa a ser afetada por visões enquanto dorme, além de enxergar pequenos raios de luz em vários cômodos de sua casa. Para sua equipe médica, tratam-se de lembranças do acidente a perturbando, porém a jovem tem a sensação de que algo a mais está acontecendo.
E nesta busca por entender o que se passa, a jovem descobrirá que há algo muito misterioso que ronda a cidade, seus amigos e o próprio acidente que sofreram.
Não se nega que o plot, mesmo não sendo uma novidade, é capaz de prender o público na tela. Contudo, Alma não se decide se é um suspense sobrenatural ou se tratará do amadurecimento de seus personagens adolescentes.
O público é “enganado” com a cena do acidente: ela é extremamente gráfica, brutal, passando a sensação de que estamos diante de uma série que não se furtará a ser explícita para aterrorizar. Ledo engano.
Sergio G. Sánchez e sua equipe de roteiristas preferem esconder muitos detalhes do público e confundi-lo em uma sequência de flashbacks que não sabemos se nos trazem alguma informação ou estão ali apenas para distrair-nos.
Estes são os momentos em que a produção da Netflix derrapa. São muitos temas significativos sendo abordados: transição à fase adulta, a compreensão do que é a morte e o pós-vida e sexualidade, por exemplo. Mas nesta base que poderia ser sólida Sánchez insere folclore, mitologia e até mesmo distúrbios psicológicos, que deixa de ser convincente e passa a ser confuso.
O enredo inicialmente sombrio e fascinante é prejudicado por vários arcos narrativos concorrentes, a maioria que não consegue nem ser intrigante e muito menos verossímil.
Não faltam momentos em que essas subtramas se sobrepõem à narrativa principal, desorganizando a experiência do espectador. Todavia, o maior erro de Alma é conduzir a narrativa para um pico de tensão e ansiedade para, no fim, deixar tudo sem solução e respostas.
O cliffhanger (aquela estratégia narrativa de levar o personagem a uma situação limítrofe para depois entregar uma redenção ou revelação) não é atrativo. A série acaba deixando o enredo pouco claro e, pior, desnecessariamente complexo.
Negligenciar o espectador a troca de garantir uma nova temporada, a meu ver, é um golpe baixo. Ao invés de deixar as pessoas intrigadas, garante uma sensação de ter sido enganado. Um bom exemplo de desperdício de uma boa ideia.
Alma ainda não teve anunciada uma segunda temporada, mas é de se imaginar que isso ocorra. A ver como Sergio G. Sánchez ajusta o rumo de sua produção.
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