Pouco antes da revolução comunista mudar a China para sempre, intelectuais da nação asiática buscavam compreender e ligar-se ao mundo moderno, às tendências e ensinamentos que não estavam relacionados ao tradicionalismo comum oriental. Dava-se na época, portanto, o primeiro passo em direção ao predomínio da arte contemporânea no país, mesmo que ainda longe de seu início de fato: artistas chineses eram enviados ao exterior para estudar as técnicas artísticas modernas e seus sistemas de educação, para posteriormente estabelecerem e aperfeiçoarem escolas e métodos próprios na China.
A proclamação da República Popular da China em 1949 atrasou, no entanto, a trajetória dos intelectuais do país, já que a arte passou a ser aceita somente ao serviço do povo e da revolução. Por um tempo, parecia não haver sequer esperança, já que a essência artística era banida e censurada, tendo que adequar-se às normas do regime.
Somente com a morte de Mao Tsé Tung, em 1976, uma certa liberdade de expressão foi devolvida aos artistas. Como explicamos então o fato de que, em 40 anos, um país que sequer é completamente democrático passou a ter lugar de destaque na arte contemporânea mundial? O que podemos perceber é que o constante desenvolvimento econômico da China desde a década de 1980 acabou não se limitando apenas ao setor econômico. Afinal, quando se tem dinheiro em caixa, outros setores da sociedade podem ser melhor expandidos e estabelecidos.
A realidade do país se elevou a um estado de permanente metamorfose e crescente liberdade de expressão – do regime comunista, esses chineses herdaram, ainda, um caráter coletivista, disciplinado e objetivo. Todas as qualidades e características propícias para o sucesso. Portanto, repetindo o modelo de seus intelectuais da década de 1940, artistas chineses pós-regime inspiraram-se no mundo ocidental, mas o aperfeiçoaram à realidade e maneira do país. Porém, com alguns adendos: com mais capital disponível que muitas dessas nações ocidentais, e, consequentemente, oportunidades de desenvolvimento.
Como explicamos então o fato de que em 40 anos, um país que sequer é completamente democrático, passou a ter lugar de destaque na arte contemporânea mundial?
O boom econômico chinês, portanto, não tardou para influenciar a arte: em 1993, a Bienal de Veneza, a maior e mais importante Bienal do mundo, já apresentava 13 artistas da nação asiática.
Em 1999, esse número já multiplicava: 25% dos artistas presentes na Bienal eram chineses. Na época, o que tal decisão significava para o ocidente reverberou em polêmicas e questionamentos, porém a qualidade da arte chinesa era inegável.
Hoje, artistas chineses já estão muito bem estabelecidos e homenageados no universo da arte contemporânea, expondo mundo afora.
Para conhecer de perto a qualidade da arte do país, a partir de 30 de setembro, próximo sábado, será muito fácil: a Bienal Internacional de Curitiba promete trazer pela primeira vez na América Latina um recorte amplo da produção contemporânea da China.
Mais de cem artistas chineses no âmbito das artes visuais, do cinema, da literatura e arquitetura serão englobados pela Bienal, que promete dialogar cultura e diversidade oriental e ocidental. Nomes de prestígio como Liang Shaoji, He Wenjue, Jin Jiangbo, Jin Lie e Li Tianyuan estarão presentes.
Em tempos de críticas ferrenhas à arte contemporânea como um todo, a Bienal vem em boa hora para restaurar a fé e a força do nicho. Com tempo expositivo de cinco meses, não há desculpa para não ir.
SERVIÇO | Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba
Quando: de 30 de setembro de 2017 a 25 de fevereiro de 2018;
Mais informações em www.bienaldecuritiba.com.br
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