Na reta final do período medieval, o homem começou a olhar para si, fazendo com que a razão passasse a se sobrepor perante a fé. Há nesse período, também, um direcionamento artístico para além dos muros das igrejas, com a arte secular ganhando espaço na sociedade – o que daria início ao humanismo, que buscava um novo modelo de produção intelectual e artística.
A humanidade assistiu ao destronamento da figura divina e o questionamento de verdades até então absolutas mediante a arte. Havia agora maior liberdade e autonomia estética.
A obscuridade passou a ganhar cores claras e nítidas, com os artistas mais livres para retratar o que os cercava, detalhando elementos aparentemente banais, mas que refletiam a sociedade.
Seus trabalhos centram-se nas ideias por trás das experiências humanas fundamentais, tais como nascimento, morte e aspectos da consciência.
Qual a lógica de abordar a Renascença para falar sobre o trabalho de Bill Viola, artista responsável pelo trabalho exposto na Catedral Metropolitana de Curitiba durante a Bienal Internacional de Curitiba 2015?
Entre tantas respostas possíveis, creio que a mais importante trate justamente do confronto exercido pela arte secular se valendo de um espaço sacro. Há um choque, muito maior do que possamos crer em um primeiro momento.
Bill Viola é um videoartista de grande destaque internacional. Seus trabalhos centram-se nas ideias por trás das experiências humanas fundamentais, tais como nascimento, morte e aspectos da consciência.
A dimensão espiritual do ser humano ganha importância em sua carreira e Três Mulheres, obra da série Transfiguração, exposta na Bienal Internacional de Curitiba, é um bom exemplo de seu olhar sobre questões místicas e religiosas a partir de sua sensibilidade artística. Os sonhos e a fantasia são utilizados na carreira de Viola como uma reflexão.
A presença de Três Mulheres na Catedral cria diferentes embates dependendo do momento de sua visita. Quando em silêncio, somos colocados diante de uma obra que conversa conosco de forma poética. O vir embaçado e opaco das mulheres é quebrado ao atravessar a queda d’água.
Agora, vemos diante de nós três mulheres em cores, renascidas ou, metaforicamente, nos dando vida. Uma fábula moderna e curiosa da Santíssima Trindade – “o Pai, Filho e Espírito Santo”.
Já, quando visitada durante a Missa, a obra age de maneira mais rebelde, como se arte e espaço não permitissem um ao outro a coexistência, exigindo de seu espectador a decisão de encarar essa peleja, focado e petrificado – quase como aparentam as figuras femininas antes do atravessar de águas – ou o dar de ombros.
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