Até o próximo dia 17 deste mês, é possível acompanhar a mostra Leonilson: agora e as oportunidades, em exibição no MASP. Entre pinturas, desenhos, bordados e instalações, o público fica em contato com a produção dos últimos cinco anos de vida de Leonilson (1957 – 1993), cearense que foi um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira.
Nascido em Fortaleza, José Leonilson Bezerra Dias se destacou entre a década de 1980 e início dos anos 1990 com obras que mergulhavam de maneira profunda em seu íntimo, vindo à tona do jeito mais poético que o artista era capaz de fazer. Amor, espiritualidade, fragilidade e a condição humana foram temas que circundaram seus trabalhos, que atravessaram linguagens, derrubando fronteiras entre pintura, bordado e desenho. Leonilson rascunhou um estilo bastante íntimo e autobiográfico, marcado por uma estética minimalista e uma narrativa confessional.
Leonilson rascunhou um estilo bastante íntimo e autobiográfico, marcado por uma estética minimalista e uma narrativa confessional.
Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, e assistência curatorial de Teo Teotonio, a exposição foi dividida de modo cronológico ao longo de cinco salas do 1º andar do MASP, cada uma revelando um dos anos finais da trajetória artística de Leonilson – entre 1989 e 1993, ano de sua morte. Público também poderá conferir no mezanino do museu, no 1º subsolo, as ilustrações do artista compostas para a coluna de comportamento “Talk of the town – o ti-ti-ti da cidade”, que Barbara Gancia mantinha no jornal Folha de S.Paulo. Também estão à disposição os vídeos documentais Com o oceano inteiro para nadar (dir. Karen Harley, 1997) e A paixão de JL (dir. Carlos Nader, 2014).
“Leonilson é um artista tanto central quanto marginal na história da arte brasileira”, comenta Pedrosa. “Central, porque é autor de uma obra absolutamente incontornável no final do século XX, reconhecido em incontáveis exposições, livros e mesmo em tatuagens”, conta o curador, para quem o artista também carregava um lado marginal por não se encaixar em movimentos e gerações da história da arte nacional. “Leonilson é marginal porque, no final dos anos 1980 no Brasil, é um homem gay, e, a partir de meados de 1991, passa a viver com HIV, o que suscitava preconceitos e discriminações na época”, afirma.
A intimidade de um artista
Leonilson recebeu o diagnóstico de infecção por HIV em 1991, em uma época que a curva de contaminação crescia vertiginosamente. O período que antecede esse momento e o subsequente demonstram um direcionamento mais íntimo nas obras do artista cearense.
Destaque ao lado de Beatriz Milhazes e Leda Catunda na chamada Geração 80 – movimento de jovens artistas da arte contemporânea brasileira que buscavam se opor às normas rígidas da arte conceitual dos anos 1970 –, Leonilson passou a desenvolver um trabalho mais poético e pessoal, caminhando na direção contrária do uso de cores intensas, por exemplo, como seus pares de movimento.
Na entrevista que compõe o catálogo da mostra, o artista sinalizou esse direcionamento. “Meus trabalhos ficaram mais maduros, ao mesmo tempo que eu penso mais sobre a minha sexualidade, a forma de me relacionar com as pessoas, a minha forma de encarar o mundo, de viver o dia a dia”, contou a Adriano Pedrosa em 1991.
Leonilson: agora e as oportunidades recebe o nome da obra homônima realizada em 1991, e que pertence ao acervo do museu. Na peça, o artista apresentou uma figura que evoca um ser mitológico, solitário e dividido, com quatro pernas e cabeças, caminhando para vários lados. No lado direito da pintura, Leonilson desenhou seis copos com designações fazendo referências às minorias sociais de sua época, demonstrando o aspecto político de seu trabalho – e sua ligação com a Geração 80.
SERVIÇO: ‘Leonilson: agora e as oportunidades’
Onde: MASP (Av. Paulista, 1578 – Bela Vista – São Paulo/SP);
Quando: até dia 17 de novembro, de terça a domingo; terças-feiras, das 10h às 20h, quarta a domingo, das 10h às 18h;
Quanto: R$ 70 (inteira) e R$ 35 (meia-entrada); terças-feiras, entrada gratuita; primeira quinta-feira do mês, entrada gratuita.
Agendamentos e mais informações no site do MASP.
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