Na corrente contrária do senso comum que insiste em crer que publicações impressas estão perdendo espaço para as digitais (ou outros tipos de produtos culturais e entretenimento), uma série de publicações, editoras, coletivos e feiras têm se espalhado Brasil afora.
A editora Lote 42, uma dessas que acreditam na força do impresso, montou a feira Tinta Fresca. Em Porto Alegre, desde 2013, a cidade acompanha a feira Parada Gráfica, que no último ano contou com mais de 300 expositores.
Curitiba não fica para trás. Além da transformação da Gibicon em Bienal de Quadrinhos, contamos com alguns verdadeiros heróis da resistência. Publicações como o Jornal RelevO, Jandique, Rascunho e Conserva – só para citar algumas –, além da quantidade infinita de outras produções independentes de gêneros variados, movimentam um mercado que pulsa.
Neste contexto surge a Feira Graphica CWB. Sua primeira edição, que contará com 12 expositores, terá lançamento de livro, telas e impressões à mostra e à venda, além de um rol de serviços à disposição do público, tudo oferecido por artistas locais.
Claudio Yuge, jornalista e quadrinista, responsável pela organização da Feira Graphica CWB, afirma que o propósito do evento é promover os artistas locais, “principalmente os que estão surgindo no cenário nos últimos anos.”
‘A galera que cresceu com a internet está mais esperta com o cenário’
Entre veteranos e novas promessas, a feira receberá José Aguiar (Quadrinhofilia), Guilherme Caldas (Candyland), Marco Jacobsen e Andre Ducci, nomes consolidados no meio. “Eles são bastante conhecidos, mas às vezes ficam esquecidos diante da nova geração de público e autores”, afirma Yuge, que também lançará um novo material durante a Feira Graphica CWB.
As artes gráficas sofreram com o descrédito do público durante anos. A internet foi, sem dúvida, um grande fator que ajudou a impulsionar não apenas uma nova geração de artistas e produtores, mas, também, a resgatar o trabalho de quem andava meio esquecido. “Era mais difícil reunir pessoas, comunicar-se, imprimir e distribuir o material”, comenta Yuge. “Mas a galera que cresceu com a internet está mais esperta com o cenário. Ela pode se comunicar e se reunir mais facilmente dessa forma, também divulgar”, conclui.
A Feira Graphica CWB acontece amanhã (11), das 13h às 20h, na Casa 102. A entrada é franca.
Papo com Claudio Yuge
Escotilha – Você crê que o público veja artes gráficas como um produto cultural menor?
Claudio Yuge – O público mais velho, talvez, porque cresceu um pouco desacreditado com o setor no passado. Era mais difícil reunir pessoas, comunicar-se, imprimir e distribuir o material. Levar seu trabalho para as pessoas no Brasil ainda é difícil, o país é grande e os meios de transporte do material são caros. Mas a galera que cresceu com a internet está mais esperta com o cenário. Ela pode se comunicar e se reunir mais facilmente dessa forma, também divulgar. Os custos de impressão caíram e as opções para impressão se multiplicaram. Até mesmo o senso de comunidade se evoluiu nos últimos anos. Então, hoje em dia, vejo que as pessoas mais interessadas estão levando bem a sério as artes gráficas.
Nós temos em outras cidades feiras gráficas que já estão consolidadas, como o caso da Parada Gráfica em Porto Alegre. No caso da Feira Graphica CWB ela tem um olhar mais focado na produção local. Há a intenção de expandir isso em futuras edições ou a ideia é estar centrado na produção curitibana?
A ideia é sempre abrigar mais pessoas, mais ideias, misturar veteranos com gente jovem. Nas feiras gráficas que fui, senti um pouco a falta da coisa do fanzine lá atrás, dessa comunidade que trocava material. Nas que fui, não senti muito esse viés hipster-vamos-todos-nos-abraçar que o pessoal costuma gostar de falar por aí. Senti algo muito comercial, ninguém queria trocar gibi ou trabalho, todo mundo só queria ganhar sua grana e pagar seu print, sua banca no evento, e parecia que as pessoas só estavam no cenário independente porque não conseguiram entrar no mainstream. Então, a Feira Graphica CWB vem pra ser algo que faça valer essa atitude independente de fazer as coisas girarem sem depender exatamente dos meios convencionais.
Não tenho pressa e nem quero abraçar o mundo, começar devagar e crescer com o tempo, de acordo com o que o público quiser. É um evento feito muito pra todos, sabe, para os artistas e para o público.
Temos acompanhado o fortalecimento das produções de materiais impressos como gibis, HQs e zines na cidade. A que você credita esse fenômeno? Aproveitando, o consumo destes produtos também tem acompanhado o crescimento da quantidade de produções?
Então, algo que falei ali pode responder essa pergunta também. Além da baixa dos custos e do aumento das alternativas de impressão, há mesmo um interesse maior por uma linguagem imagética com a dinâmica dos quadrinhos ou das séries de arte, por exemplo. Quanto mais jovem, mais ligado às imagens esse público está. Veja como todos absorvem e produzem mais vídeos e fotos nas redes sociais. Então, há uma vontade maior de se expressar por meio das imagens e os quadrinhos e artes gráficas são ótimos meios pra isso. Acho que tudo isso, somado a uma facilidade maior de distribuição e divulgação, são fatores que ajudaram a alavancar o setor.
SERVIÇO | I Feira Graphica CWB
O quê: Exposições, venda prints e HQs, comidas, bebidas e música;
Quem: Expositores: Alexandre Correa, Alexandre Eschenbach, André Ducci, Bernardo Correia, Claudio Yuge, Guilherme Caldas, Itiban Comic Shop, Isabela Nishijima, José Aguiar, Luque Ramos, Marco Jacobsen e That Rock!/Colophon;
Quando: dia 11/06, sábado, das 13h às 20h;
Onde: Casa 102 | Rua Julia da Costa, 102.
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