Seriam os homens iguais uns aos outros? Em momentos de profundas crises quanto à nossa essência enquanto humanos, a fim de superar nossas próprias limitações, precisamos examinar nosso interior. Acreditar que, ao extrapolar os limites, inclusive entre a ciência e a arte, tornamos a olhar pra a matéria que, de alguma forma, foge à nossa compreensão, nos torna iguais.
Quando a ciência detectou que o corpo humano emitiria luz – no caso, biofótons, também conhecidos como emissões ultrafracas de fótons, partículas relacionadas com a radiação eletromagnética (incluindo a luz) – parece que se criou uma possibilidade de vislumbrarmos a relação entre luz, homem e arte, indo além do seu uso como expressão, como um artifício artístico, mas, também, a compreendendo como uma parte de nós, da arte secular.
Um bom exemplo para a compreensão dessa conexão entre ciência e arte pode ser encontrado no trabalho da artista alemã Helga Griffiths, exposto no Museu Oscar Niemeyer, durante a Bienal Internacional de Curitiba. O trabalho da artista é a representação de seu código DNA. A partir da réplica de sua estrutura genética, a informação mais única e intimista sobre o “eu”, Helga debate, por exemplo, as barreiras existentes à compreensão de nossas semelhanças enquanto humanos.
Através de sua experiência, literalmente enxergamos o próximo.
“Somos 98% iguais. Todos. Independente do gênero, raça ou credo. Nosso código genético é 98% igual”, disse a artista em seu encontro com a imprensa antes da inauguração da Bienal, no último sábado. A obra, que aqui em Curitiba não está em sua totalidade, é um desnudar científico-artístico diante do público, como bem apontado pelo curador Teixeira Coelho.
Identity Analysis, seu trabalho aqui exposto, leva o visitante literal e metaforicamente para dentro da mínima parte de Helga. Não fosse suficiente esse caminho espiral até o centro de seu interior, conseguimos nos ver através das camadas, independente da “profundidade” caminhada nesta representação de DNA. Impossível não compreender as nuances de seu trabalho. Através de sua experiência, literalmente enxergamos o próximo. Me vejo refletido em você através do outro, como num convite a conhecer o desconhecido, ou elaborando melhor, a ver que há nesta partícula mínima e inenarrável de humanidade um pouco de todos nós.
Passamos algumas décadas procurando descobrir a essência da humanidade na cabeça dos homens, ou mesmo procurando o que nos difere uns dos outros. Helga Griffiths e seu Identity Analysis servem como uma bela demonstração sobre o que deveríamos nos focar, e dá indícios sobre as belas reflexões que a Bienal Internacional de Curitiba e seu tema “Luz do Mundo” permitem que façamos e – fica a torcida – levemos para a vida.
* O título deste texto faz referência à obra De Invisíveis a Protagonistas: Populações Tradicionais e Unidades de Conservação, de Lucila Pinsard Vianna (Martins Fontes, 2008), em que se debate a necessidade de um olhar mais plural sobre os povos, fugindo de nossa insistência em seguirmos por conceitos simplificadores.
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