As ruas do Brasil despertaram com um espetáculo de cores e reivindicações artísticas nesta manhã. Não são apenas pinceladas e tinta, mas um grito coletivo pela representatividade. A Mostra Juízas Negras Para Ontem saiu dos museus tradicionais e invadiu o espaço público, transformando nossas cidades em galerias de arte a céu aberto, para todos os olhares e todas as consciências. A iniciativa, que conta com o talento de 24 artistas negros, surge como um chamado à justiça e à igualdade, colocando em destaque a necessidade de ter uma mulher negra no Supremo Tribunal Federal (STF).
Nina Vieira, diretora de arte e curadora desta impactante exposição itinerante, enfatiza que a presença de mulheres negras no STF é mais do que uma mera questão de representação, é uma demanda latente da sociedade brasileira por equidade de gênero e raça no âmbito judicial. “Ter uma mulher negra no STF é uma questão de Justiça. Ocupar esse espaço de poder é uma ação de enfrentamento de injustiças históricas e um passo na reparação. Não faz sentido que a suprema corte do poder judiciário nacional não tenha representação equivalente ao que é o povo brasileiro.”
Neste momento de reflexão e urgência, é crucial lembrar que, segundo dados do IBGE, mais de 56% da população brasileira se identifica como preta ou parda, enquanto quase um terço é composto por mulheres negras. No entanto, ao longo dos 132 anos de existência do STF, somente três ministros foram negros, e todas as ministras até hoje foram brancas. Essa disparidade de raça e gênero não se limita ao STF, pois apenas 7% dos magistrados de primeira instância e 2% na segunda instância são mulheres negras. É uma realidade alarmante que clama por mudança.
A exposição Juízas Negras Para Ontem não é uma ação isolada. Ela se junta a uma série de esforços de movimentos sociais, celebridades e lideranças políticas que clamam pela nomeação de uma mulher negra para o STF.
A recente perda de Mãe Bernardete Pacífico, uma referência na luta pela igualdade racial, expôs a negligência sistemática que a população negra enfrenta no Brasil. As estatísticas de pobreza, desemprego, desigualdade salarial, violência, falta de acesso à saúde e educação, bem como a representatividade na população carcerária, revelam uma realidade preocupante. Como guardiões da Constituição, os ministros do STF têm o poder de influenciar decisivamente na redução dessas desigualdades e na eliminação das injustiças perpetuadas pelo racismo estrutural da nossa sociedade.
A exposição Juízas Negras Para Ontem não é uma ação isolada. Ela se junta a uma série de esforços de movimentos sociais, celebridades e lideranças políticas que clamam pela nomeação de uma mulher negra para o STF. O momento é de transformação e de reconhecimento da urgência em garantir que nossa mais alta corte seja verdadeiramente reflexo da diversidade e da pluralidade do Brasil.
Ao caminharmos pelas ruas e contemplarmos essas obras de arte vibrantes e repletas de significado, somos lembrados da importância de ampliarmos o diálogo sobre a representatividade e a justiça social em nosso país. Mitti Mendonça, uma das talentosas artistas envolvidas na exposição, compartilha sua inspiração: “Para a concepção, parti da ideia de ocupar lugares de poder e de decisão, colocando uma mulher negra em uma posição de destaque e em contraponto com uma cadeira vazia, dialogando sobre a importância de termos representantes no STF. A paleta de cores propositalmente remete às da bandeira do Brasil, pois o conjunto estabelece ligação direta com a política, para quem passa na rua já ter essa leitura do que se trata a questão. Além disso, a balança – um dos símbolos da justiça.”
Juízas Negras Para Ontem é um testemunho vívido de que a arte pode ser uma poderosa ferramenta de conscientização e mobilização social. Ela nos desafia a refletir sobre o papel do STF na construção de um Brasil mais justo e inclusivo, onde todas as vozes sejam ouvidas e todas as cores da nossa rica diversidade sejam representadas. Não é apenas um apelo à nomeação de uma ministra negra, mas uma convocação para que o Brasil enfrente suas injustiças históricas e crie um futuro mais igualitário e promissor para todos os seus cidadãos. A história está sendo escrita nas ruas, e é um capítulo que não podemos ignorar.
Confira a seguir a relação de cidades e autores:
ARTISTA | LOCAL DA COLAGEM | |
A COISA FICOU PRETA | acoisaficoupreta | Maceió / AL |
Alcides Rodrigues | amarelografico | Rua Treze de Maio, 772 Bixiga – São Paulo / SP |
Alisson Damasceno | alissondamasceno_ | Belo Horizonte / MG |
Alma Retinta | almaretinta | Madureira, Rio de Janeiro/ RJ |
Ariel Farfas | ariel gfarfan | Teresina / PI |
Arthur Costa | arthur agc | São Paulo / SP |
Ayala Prazeres | potencianaobinaria | Curitiba / PR |
Cassimano | cassimanodesign | São Paulo / SP |
Daisy Serena | daisy_aserena | Minhocão, São Paulo / SP |
Kerolayne Kemblin | dacordobarro | Quilombo Liberdade, São Luís / MA |
Larissa Constantino | lariconstantino_ | São Paulo / SP |
Leticia Carvalho | leticafe | Recife / PE |
Manifesto Crespo | manifestocrespo | Feira de São Joaquim, Salvador / BA |
Marcela Bonfim | bonfim_marcela | Porto Velho / RO |
Michel Cena7 | michelcena7 | São Bernardo do Campo / SP |
Mitti Mendonça | mao negra | Rua dos Andradas, 1079 Centro Histórico, Porto Alegre / RS |
Nayò | nayo arte | Largo da Batata, São Paulo / SP |
Robinho Santana | robinho_santana | Diadema / SP |
Senegambia | senegambia81 | Salvador / BA |
Sereia Caranguejo | sereiacaranguejo | Manaus / AM |
Sheila Signário | photosignario | São Paulo / SP |
Thais Devir | devirpassaro | Rio de Janeiro / RJ |
Thayná Miguel | thayna miguell | São Paulo / SP |
RENFA DF | tulipasdocerrado | Setor Comercial Sul, Quadra 4, Brasília / DF |
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