Para quem acompanha de forma assídua a programação dos cinemas, o nome do diretor franco-canadense Dennis Villeneuve não é apenas conhecido, mas, até certo ponto, cultuado. Com Incêndios – drama de 2010, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro no ano seguinte – e mais recentemente com Os Suspeitos – um filmaço com Hugh Jackman, Jake Gyllenhaal e Viola Davis no elenco – Villeneuve viu sua carreira subir vários e vários degraus. Sicario: Terra de Ninguém, seu novo filme, em pré-estreia nos cinemas brasileiros, chegou repleto de expectativa, com direito a estreia mundial no prestigiado Festival de Cannes, em maio deste ano.
Villeneuve tem mostrado que parte da força de seu trabalho reside na forma interessante com que constrói e desenvolve climas tensos em suas obras. Em Os Suspeitos, trabalhou muito bem a simbologia na trama, mostrando como o cinema é capaz de falar muito sem necessariamente ser explícito. Em Sicario: Terra de Ninguém, ele torna a fazer bom uso da trilha sonora, de seus enquadramentos e movimentações, mas sofre com problemas na trama, parte pelo roteiro do novato Taylor Sheridan, parte por pesar demais a mão ao ajustar o trabalho do roteirista.
O filme conta a história da agente do FBI Kate Macer (interpretada por Emily Blunt, de O Diabo Veste Prada), que durante uma operação descobre dezenas de cadáveres dentro das paredes de uma casa. A atuação da agente nesta missão faz com que seu chefe, Dave Jennings (Victor Garber, de Titanic e Argo), a indique para trabalhar em uma operação envolvendo várias instâncias, como a CIA e o Departamento de Justiça. Kate concorda em participar, liderando a equipe que parte em busca de um chefão do crime organizado mexicano, provável responsável pelos corpos por ela encontrados. Aos poucos, ela nota que seus conceitos de justiça e lei não condizem com o que ela precisa enfrentar no trabalho.
Se filmes de ação costumam utilizar as cenas de mortes como um emaranhado de gritos, bombas, tiros, barulhos ensurdecedores e câmeras tremidas, é bom saber que o diretor franco-canadense vai além.
Villeneuve e seu Sicario: Terra de Ninguém jogam com o valor da vida – é, sem sombra de dúvida, um filme seu justamente por sua abordagem metafísica. Se filmes de ação costumam utilizar as cenas de mortes como um emaranhado de gritos, bombas, tiros, barulhos ensurdecedores e câmeras tremidas, é bom saber que o diretor franco-canadense vai além. Esse conflito entre o dever e a consciência de Kate é posto à prova a todo instante, seja por seu próprio julgamento, seja no deboche de Matt Graver (personagem de Josh Brolin, de Evereste) sobre os conceitos de certo ou errado da agente. No contexto bélico norte-americano, questionamentos como este têm um peso diferenciado.
E se o filme possui sequências de ação incríveis e de tirar o fôlego – outra marca do diretor -, ele derrapa na construção estereotipada do país latino-americano. Até a presença de Benicio del Toro (de Snatch: Porcos e Diamantes) como Alejandro, parceiro de Matt Graver na CIA, é uma repetição de outros personagens latinos já interpretados pelo ator – o que não desmerece o trabalho de del Toro, importante frisar. Para um filme que se propõe a questionar a moralidade dos Estados Unidos, assumir esta representação é bastante questionável.
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