Confesso que hesitei muito antes de resolver assistir a Maldivas, série brasileira recém-lançada na Netflix, que a produz em parceria com a O2, do cineasta Fernando Meirelles. Primeiro, porque me parecia ser um produto audiovisual com uma audiência bastante recortada e específica: jovens do sexo feminino, fãs e os milhões de seguidores de Bruna Marquezine e Manu Gavassi, estrelas da produção.
Não me encaixo em nenhuma dessas categorias, porém, resolvi encarar a produção por conta da sinopse, do burburinho e da direção de José Alvarenga, eclético realizador da hoje clássica sitcom Os Normais e do seriado policial Força-Tarefa, que às suas respectivas épocas de lançamento me pareceram bastante interessantes.
Criada por Natália Klein, também uma das protagonistas, Maldivas, ao fim de seus sete episódios, me pareceu um instigante, ainda que irregular, cruzamento da dramédia norte-americana Desperate Housewives, em termos de estrutura e foco nas vicissitudes de mulheres da classe média alta, com a série cômica global Toma Lá, Dá Cá, criada por Miguel Falabella, por retratar a elite meio ridícula e cafona, os chamados emergentes da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
No centro da trama está a jovem goiana Liz (Bruna Marquezine), que se muda para o Rio com o intuito de reencontrar, após muito anos de separação, sua mãe Patrícia (Vanessa Gerbelli), que morre num misterioso incêndio no apartamento onde mora no luxuoso condomínio que dá nome à série.
É inusitado e uma super sacada esse casting: Bruna, em sua impactante estreia como atriz mirim na novela Mulheres Apaixonadas (2003), de Manoel Carlos, era filha da personagem de Vanessa, que, por sinal, também morre assassinada no meio da trama.
É inusitado e uma super sacada esse casting: Bruna, em sua impactante estreia como atriz mirim na novela Mulheres Apaixonadas, na qual era filha da personagem de Vanessa.
Determinada a obter respostas para essa tragédia, Liz se infiltra no mesmo conjunto de edifícios onde a mãe residia há alguns anos. Lá, conhece Milene (Manu Gavassi), que no início da trama é síndica do condomínio e leva uma vida de aparências, glamourosa e vazia, ao lado do marido, o cirurgião plástico Victor Hugo (Klebber Toledo), responsável pela transformação do rosto da esposa.
Outra vizinha e “amiga” de Patríia é Rayssa (Sheron Menezzes), ex-cantora de axé que se tornou executiva de sucesso, casada com o vocalista e dançarino de sua banda (uma alusão evidente ao É o Tchan), Cauã (Samuel Melo). O casal mantém uma relação aberta.
A quarta dona de casa desesperada da série é a mãe de família Kat (Carol Castro), às voltas com seu marido Gustavo (Guilherme Winter), que cumpre prisão domiciliar, acusado de estelionato e lavagem de dinheiro.
Quem narra a série é a excêntrica Verônica (a ótima Natalia Klein, idealizadora da série), dona de um humor mordaz, sardônico, completamente diferente de suas vizinhas.
Entre o thriller e a chanchada, Maldivas traz uma visão corrosiva do materialismo pseudo chique da Barra da Tijuca, onde o excesso de dinheiro não compensa a falta de cultura. Talvez isso a salva de ser uma emulação de séries norte-americanas.
Bruna Marquezine até segura o seu papel com desenvoltura dramática enquanto Manu Gavassi, bem menos experiente como atriz, constrói uma Milena caricata, cheia de caras e bocas, que, em alguns momentos, funciona, faz rir, mas é oca e de uma nota só.
Sharon e Carol, atrizes mais azeitadas, versáteis, se saem melhor. Vanessa Gerbelli, como a misteriosa mãe de Liz, tem, talvez, a personagem mais complexa que, de certa forma, é a mola propulsora da trama, embora apareça menos.
O roteiro rocambolesco de Maldivas tem altos e baixos. Embora a premissa seja interessante, algumas situações soam falsas, forçadas. Ainda assim, resulta divertida, principalmente como comentário social, e nos faz rir com, e às vezes de, suas personagens, mulheres à beira de um ataque de nervos que, sim, existem na vida real.
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