Desde que os grandes executivos dos canais americanos descobriram que super-heróis rendem, a TV foi invadida por adaptações, sempre contando o início, a adolescência, a jornada do herói. Demolidor, Gotham, Arrow, The Flash, Agent Carter, Agents of S.H.I.E.L.D ganharam um público fiel, reascendendo um interesse que parece estar longe de acabar. Uma das adaptações mais esperadas da temporada 2015/2016, mesmo com seu piloto vazado na internet, é Supergirl. A ansiedade tem fundamento: o universo do Super-Homem sempre gerou resultados favoráveis, tanto no cinema quanto na TV; a Supergirl, prima de Kal-El, só teve sua história adaptada no cinema uma vez, em 1984, com Helen Slater no papel; gratificante ver , também, que a televisão, dominada por heróis masculinos, finalmente terá sua heroína. Porém, mesmo apresentando um potencial enorme, a julgar pelo seu episódio piloto, Supergirl é fraca, boba e frágil.
Kara Zor-El (Melissa Benoist, de Glee), prima de Kal-El, após testemunhar a destruição de seu planeta, é enviada para a Terra, com a missão de proteger seu primo. Lá, ela é adotada pela família dos Danvers e é ensinada a manter seus poderes em segredo, vivendo na sombra de sua irmã adotiva Alex (Chyler Leigh). Agora, vivendo na fictícia National City, Kara trabalha como auxiliar da magnata da mídia, Cat Grant (Calista Flockhart), que contratou o ex-fotógrafo do Planeta Diário, James Olsen (Mehcad Brooks), como seu novo diretor de arte. Após 12 anos escondendo seus poderes, um desastre faz com que Kara seja forçada a utilizá-los e acaba se tornando uma heroína pública, tal como seu primo. Decidida a seguir o mesmo caminho de Clark Kent, Kara oferece ajuda à Hank Henshaw (David Harewood), chefe de uma agência secreta, onde sua irmã trabalha, que tem como objetivo manter a Terra protegida de alienígenas. Kara, então, abraça suas habilidades e torna-se a heroína que sempre sonhou ser, ficando conhecida como Supergirl.
Prevista para estrear dia 26 de outubro, Supergirl prefere não focar em histórias densas, ao menos no piloto. Kara é engraçadinha, atrapalhada, ingênua, caricata, assim como todo o elenco. Eficiente ao fisgar o telespectador com uma fotografia interessante e efeitos especiais que não dão vergonha, o episódio se mostra incapaz de segurar sua própria empolgação, pisando no acelerador sem olhar a sua frente. Assim, Supergirl não quer perder tempo apresentando sua premissa, partindo do princípio que o público já conhece o enredo original, se afastando de sua série-irmã, Smallville, que também apresentou Kara ao público. Dessa forma, toda a história da destruição de Krypton até Kara já crescida acontece em cinco minutos, com o episódio preferindo dialogar com os adolescentes, numa linguagem esquizofrênica que corre o risco de cair no esquecimento após sua estreia.
Para piorar, os produtores parecem não confiar na própria força da personagem, tratando Kara como a famosa prima do homem de aço. A sombra do super-homem aparece no episódio todo, com Kara sendo manipulada pelo primo mesmo sem saber. Mesmo que ele apareça apenas de costas e por breves segundos, temos a incômoda impressão de que Kara é um subproduto que precisará lutar para alcançar seu lugar ao Sol e essa impressão não vem somente da personagem, mas da própria série. Com diversas histórias de heróis mostrando seu lado sombrio, Kara parece infantiloide demais, dispensável.
Temos a incômoda impressão de que Kara é um subproduto que precisará lutar para alcançar seu lugar ao Sol e essa impressão não vem somente da personagem, mas da própria série.
Os atores também se mostram fora do tom, algo que parece vir mais da direção de elenco do que por culpa deles. Mellisa Benoist até se esforça, mas parece mais uma mulher muito atrapalhada do que alguma personagem que o público possa se interessar. Os outros personagens, pela pressa do roteiro, lutam para tentar apresentar suas característica. A irmã de Kara parece rígida, até um pouco ressentida por ser humana, mas logo depois muda de personalidade e opinião. Jimmy Olsen não precisa dizer muito para ganhar a simpatia do público, já que tem uma ligação direta com Superman e Cat Grant parece estar interpretando uma Miranda Priestly perdida e menos poderosa.
Porém, ainda que Supergirl apenas ensaie a questão do feminismo, o assunto está lá e isso a faz uma série a se considerar. Diálogos interessantes como: “Dá pra acreditar? Uma super-herói mulher! Será bom para minha filha ter alguém assim para se espelhar” geram um certo interesse para saber qual será a jornada de Kara para se descobrir não apenas como a heroína de um povo, mas como a mulher poderosa que pode ser.
A esperança de que a série melhore fica mais fácil quando pensamos em quantas produções péssimas tiveram pilotos incríveis, apenas para decair a cada semana, e vice-versa. Porém, com um piloto no qual muita coisa é mostrada e pouca coisa é contada, Supergirl não consegue criar uma ligação forte com o público. Se a série quiser ter alguma relevância de público e crítica, vai precisar pisar no freio e pensar em situações menos rápidas, para que não se torne uma versão engraçadinha de Smallville. Dependendo da confiança do público para continuar existindo, Supergirl tem potencial, mas corre o risco de se tornar um fiasco por inabilidade de seus roteiristas.