Quando fui convidada para participar da equipe da Escotilha que cobriria o festival Olhar de Cinema, eu já sabia que Jacques Tati teria seus filmes exibidos na mostra Olhar Retrospectivo, que todo ano se dedica a exibir na telona as obras de grandes nomes do cinema.
A expectativa de poder ver Tati no cinema me foi muito próxima à sensação de ansiedade que uma criança sente ao aguardar com inquietude no portão de casa a chegada do tio do sorvete… Pode parecer jocosa tal comparação, mas é exatamente assim que me sinto. Mesmo sabendo de minhas responsabilidades em analisar as mostras Novos e Outros Olhares, fugi. Fugi! Admito, não nego! Arquitetei maquiavelicamente meu plano de desviar da correria da cobertura do evento por algumas horinhas e refugiei-me então em 1958, na França lúdica e automotizada de Meu Tio (Mon Oncle, Jacques Tati).
Vejo em Monsieur Hulot meu tio-avô, Ludovico (Tio Vítio para os íntimos). Tio Vítio era o tio-avô, tio e avô, que vivia levando bronca de minha mãe e minha avó por me dar doces na surdina logo antes do almoço. Monsieur Hulot…digo, meu tio (o Vítio), nunca entendeu bem esse negócio de fogão elétrico e microondas, era fã mesmo do bom e velho fogão à lenha.
Se entrasse na cozinha tecnológica de Madame Arpel então, sairia gritando! Meu tio fazia para mim seu maravilhoso ensopado de batatas que jamais terei a honra de degustar novamente, infelizmente o Sr. Hulot de minha infância se foi. Mas o Hulot de Tati, para a minha alegria, é eterno. Foi imortalizado pelo olho da câmera e me permite visitá-lo sempre que quiser, dessa vez na tela da sala escura do Olhar de Cinema.
Logo antes de começar o filme, vemos um já velhinho Jacques Tati falando sobre a felicidade que sente de fazer rir depois de tantos anos jovens de várias gerações. Desejo então, um mundo com mais Tati em Olhares Retrospectivos de festivais de todo o mundo. Para o bem da humanidade, as crianças de 0 a 90 anos das próximas gerações precisam saber que Jacques Tati existe.
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