Em Hollywood ou no Brasil (e, por que não, no resto do mundo), um filme de relativo sucesso costuma receber clamores por uma sequência quase de forma imediata, como se houvesse deixado órfãos e precisasse lhes salvar – só ainda não se sabe ao certo do quê.
A comédia é um gênero que nem sempre deixa pontas soltas, fazendo com que, quando transformadas em franquia, suas sequências apelem para o clichê, para o lugar-comum, para a repetição daquela piada que não era fantástica, mas te fez rir quando contada pela primeira vez.
Desde as comédias da década de 1980, como as franquias Um Tira da Pesada, Corra Que a Polícia Vem Aí, Loucademia de Polícia e A Vingança dos Nerds, até as iniciadas na década de 1990, como American Pie, Austin Powers, Hora do Rush e O Professor Aloprado (não a versão de Jerry Lewis, que fique claro), chegando na Se Beber, Não Case dos anos 2000, boa parte do que foi feito após o primeiro capítulo não agradou em cheio, muito em virtude da preguiça em oferecer uma nova experiência.
Sem dúvida que isso nem sempre é uma regra e, em alguma medida, A Escolha Perfeita 2, que estreou ontem nos cinemas de todo Brasil, procura modificar a equação, de forma a entregar um filme que seja mais interessante que seu predecessor. Ainda assim, o longa-metragem dá suas derrapadas, criando piadas que, além da completa falta de graça, chegam ao ponto de serem ofensivas.
Há muita música pop e muita dança, o que empolga e cria uma rápida empatia.
A Escolha Perfeita 2 começa logo após as Barden Bellas – um coral universitário acapella de garotas – alcançarem o sucesso, fazendo com que tenham a oportunidade de apresentarem-se para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (Yes, He Can, digo, ele aparece). Após uma falha ocorrida durante o show, o grupo torna-se vergonha nacional e é punido pela associação de corais. A única saída para contornarem isto é vencendo o Campeonato Mundial Acapella.
Com Anna Kendrick e Rebel Wilson de volta aos papeis de Beca e Fat Amy, respectivamente, A Escolha Perfeita 2 segue a estratégia de misturar o sucesso atingido com programas (e filmes) como High School Musical e Glee com o humor mais escrachado de filmes como Não é Mais Um Besteirol Americano e Todo Mundo em Pânico, sendo um prato cheio para os fãs dos programas e filmes citados, especialmente adolescentes e jovens adultos.
Talvez essa seja justamente a força e a fraqueza do longa-metragem. Há muita música pop e muita dança, o que empolga e cria uma rápida empatia. O mesmo acontece com as piadas que, se nem sempre engraçadas (e por vezes até pesadas), dialogam bem com quem acompanha o mundo das celebridades. Porém o enredo apresenta certos problemas.
Se a roteirista Kay Cannon trouxe algo bom de suas bem sucedidas empreitadas nas séries New Girl e 30 Rock, isso ficou concentrado na cena que abre A Escolha Perfeita 2 e em momentos isolados ao longo do filme. O humor escrachado de Kay, em conjunto com a escrita pop de Mickey Rapkin (autor do livro homônimo que deu origem à franquia), permite algumas brechas para críticas ao machismo, ao culto ao corpo (e a gordofobia) e ao show business, mas confesso que é pouco para quase duas horas de filme.
Já a atriz Elizabeth Banks estreia atrás das câmeras dirigindo o longa (ela também atua no filme). Muito conhecida pelo papel da Doutora Kim Briggs em Scrubs, Elizabeth não compromete na direção nem em seu papel relativamente discreto como Gail Halthorne.
Se é fã da franquia, marque na agenda: A Escolha Perfeita 3 já está encomendado e deve estrear em 2017.
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