Lançado em 1979, Alien – O Oitavo Passageiro é um marco incontornável do cinema de ficção científica. O longa-metragem do diretor britânico Ridley Scott (de Blade Runner – O Caçador de Androides e Gladiador), embora tenha vencido o Oscar de melhores efeitos visuais, não é uma obra lembrada apenas por suas qualidades técnicas: o tom claustrofóbico de sua narrativa, que mantém forte diálogo com o terror, transcende os limites de seu gênero. À época do lançamento, foi interpretado como um profética metáfora sobre a epidemia da Aids, que começava a fazer suas primeiras vítimas, ainda envolta de ignorância e preconceito, sendo chamada de “câncer gay”.
Passados 38 anos, a produção, um inesperado sucesso de bilheteria, rendeu três sequências oficiais e, em 2012, uma prequel, intitulada Prometheus, que marcou o retorno de Scott ao universo de Alien para explicar quem eram, afinal, os Space Jockeys da nave onde se passava a trama do longa de 79. Visualmente exuberante, mas com uma trama algo confusa, e os pés mais fincados na ficção científica do que no horror e na ação, o filme consegue decolar, sobretudo, por conta da competente direção do cineasta, agora de novo na boleia da franquia em Alien: Covenant, que chega hoje aos cinemas brasileiros, antes de estrear nos Estados Unidos.
A missão, desta feita, é explicar como a criatura extraterrestre, horripilante e assassina, ganhou sua forma icônica. Percebe-se que, talvez frustrado com a recepção morna de Prometheus, Scott resolveu se reconectar com o Alien original por meio de uma trama mais direta, voltando a investir no suspense e, principalmente, no horror. O objetivo, no entanto, é apenas parcialmente alcançado. Ainda que seja até certo ponto envolvente, e renda alguns bons sustos, Alien: Covenant não consegue responder muitas das perguntas deixadas em aberto por Prometheus.
Como em Alien – O Oitavo Passageiro, acompanhamos a jornada da tripulação de uma nave, chamada Covenant, no espaço em busca de um planeta capaz de receber uma nova colônia de humanos.
O principal elo com o filme anterior é o androide David, vivido por um excelente Michael Fassbender (de Steve Jobs). Ou melhor, trata-se, em um primeiro momento, de uma nova versão, revista e atualizada, do robô, que agora atende pelo nome de William. A trama se passa anos após o desfecho de Prometheus e, à exceção de Fassbender (e Guy Ritchie, em uma breve participação especial), tem o elenco todo renovado.
Como em Alien – O Oitavo Passageiro, acompanhamos a jornada da tripulação de uma nave, chamada Covenant, no espaço em busca de um planeta capaz de receber uma nova colônia de humanos. Esse esforço expansionista terá consequências trágicas – e bastante sangrentas. Mas não conclusivas. Alien: Covenant parece ser um episódio intermediário, de transição, no que deve ser, pelo menos, uma trilogia.
Um filme mediano de Ridley Scott, como este Alien: Covenant, proporciona ao espectador, ao fim e ao cabo, razões suficientes para assisti-lo, por conta da grande habilidade do diretor em orquestrar sua narrativa. Algo, no entanto, incomoda, quando o comparamos à sua matriz. Enquanto há uma crueza no longa de 1979, época na qual o cinema ainda contemplava mais o público adulto (apesar da explosão de Star Wars, em 1977), neste novo filme os efeitos visuais ocupam mais espaço. A criatura que dá nome ao filme ressurge algo inorgânica demais. O terror, ainda que presente, padece de um certo pudor: vemos o antes e o depois, menos o durante.
Além de Fassbender, que enfrenta com brilhantismo o desafio de viver David e William, cujo enfrentamento talvez seja a alma da trama, vale destaque a protagonista Daniels (a inglesa Katherine Waterston, de Animais Fantásticos e Onde Habitam), que assume na história um papel bastante parecido com o de Ripley (Sigourney Weaver), no primeiro filme e suas sequências. É uma mulher forte, determinada, que parece fadada a sobreviver enquanto todos ao seu redor perecem. Talvez seja a única personagem mais complexa e delineada em um roteiro bastante irregular neste quesito.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.