O cazaquistanês Timur Bekmambetov fez fama com Guardiões da Noite (2004), filme de terror russo que marcou época com seus efeitos especiais. A fama internacional chegou para ficar com O Procurado (2008), longa-metragem estrelado por Angelina Jolie, James McAvoy e Morgan Freeman. Com histórico no cinema de terror, Bekmambetov investe na produção do roteiro de Amizade Desfeita, de Nelson Greaves (famoso por seus roteiros para a série Sleepy Hollow), que estreou ontem nos cinemas brasileiros.
Dirigido por Levan Gabriadze, diretor georgiano que faz sua estreia em Hollywood, Amizade Desfeita conta a história de seis amigos que se reúnem em uma videoconferência via Skype para conversar. Coincidentemente, o dia em que a história se passa marca o aniversário de um ano do suicídio de Laura, uma colega deles que se matou após ter um vídeo constrangedor publicado na internet.
Nesta conversa, os seis amigos notam a presença de uma sétima pessoa na videoconferência que nenhum parece conhecer. Sem rosto (é o único avatar na tela sem uma câmera), ela passa a enviar mensagens a partir do perfil de Laura no Facebook para cada um deles. Esta sétima pessoa, aos poucos, começa a se revelar e faz com que todos os envolvidos passem a participar de um jogo no qual as consequências podem ser devastadoras.
A grande força de Amizade Desfeita reside em sua capacidade de compreender bem esta geração de jovens e adolescentes, que passam parte de seus dias entre telas de smartphones, tablets e computadores. Em alguma medida, o longa-metragem acaba debatendo o cyberbullying, prática infelizmente comum entre jovens nos dias de hoje. Programas, aplicativos e sites comuns ao nosso cotidiano estão presentes, como Spotify, YouTube, Facebook, Skype, iTunes e iMessage.
Amizade Desfeita traz um refresco com sua trama se desenvolvendo exclusivamente na tela de dispositivos digitais.
Com a saturação de estratégias narrativas no cinema de horror, que nos últimos anos tem se ocupado com a estética do found footage, Amizade Desfeita traz um refresco com sua trama se desenvolvendo exclusivamente na tela de dispositivos digitais. Entretanto, isso também acaba sufocando um pouco o filme por dois motivos.
Primeiro, a presença constante da ameaça tira boa parte de seu brilho. Neste sentido, a tensão criada pela antecipação de que algo possa ocorrer na tela é diminuída. O segundo problema é a exposição excessiva de marcas que, por vezes, causa uma sensação maior de se tratar de product placement – inserção de mensagens publicitárias de forma sutil sem que o consumidor as rejeite – do que parte da trama, como se a publicidade sobrepusesse a tecnologia.
Para além de sua tentativa de inovar as narrativas, Amizade Desfeita é repleto de clichês do cinema de horror (em especial o com caráter mais jovem), personagens mal desenvolvidos e desfechos óbvios. É como entrar no cinema para assistir um filme que já lhe contaram o final. De tudo, é inegável que Levan Gabriadze prende a atenção do espectador na tela ao longo dos 83 minutos de filme, até porque não há mudanças de enquadramento ou do cenário. Que, ao menos, alguém saiba novamente compreender esta geração e entregue um filme melhor resolvido.
A título de curiosidade, já foi encomendada uma sequência para Amizade Desfeita. Cheirinho de franquia no ar.
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