Na trama de Belfast, em cartaz nos cinemas de todo o país, o diretor e ator Kenneth Branagh (de Morte sobre o Nilo) decide revisitar a infância que viveu em sua cidade-natal, capital da Irlanda do Norte. A narrativa traz o ponto de vista de Buddy (vivido pelo encantador Jude Hill), um garoto de 9 anos que se vê no meio de um violento conflito armado entre protestantes e católicos que tomou as ruas da cidade no fim da década de 1960 e que recebeu o nome de The Troubles, algo como “Os Problemas”, em português.
O menino, pequeno demais para compreender o que é o confronto, segue vivendo, enquanto o drama e o medo se tornam mais e mais evidentes ao seu redor. É como se o garoto estivesse em meio a um jogo, uma brincadeira. Ao mesmo tempo, à medida em que o círculo se fecha em torno de seus pais, Ma (Caitriona Balfe, da série Outlander) e Pa (Jamie Dornan, o astro de Cinquenta Tons de Cinza), que são da minoria protestante na Irlanda, torna-se evidente que permanecer em Belfast é um grande risco.
Vencedor do prêmio principal do Festival de Toronto, do Globo de Ouro de melhor roteiro e do Bafta de melhor filme britânico, Belfast recebeu sete indicações ao Oscar, entre eles os de melhor filme, direção e roteiro original, este baseado nas experiências que Branagh viveu na infância.
O conflito ultraviolento é visto através dos olhos inocentes de Buddy e, por isso, acaba não abordando questões políticas e sociais com maior complexidade.
Belfast é um filme singelo, que enche os olhos, graças ao primoroso desenho de produção e, em especial à fotografia em preto-e-branco, assinada pelo cipriota Haris Zambaloukos (de Locke), que reproduz a perspectiva lúdica de Buddy – há planos, cenas e sequências muito lindos – até demais.
Essa escolha faz lembrar o também autobiográfico Esperança e Glória, clássico de John Boorman, de 1987, que traz a visão de um menino inglês durante a Segunda Guerra Mundial. O longa de Branagh é inferior ao de Boorman, contudo, porque peca por um certo excesso de ingenuidade.
O conflito ultraviolento é visto através dos olhos inocentes de Buddy e, por isso, acaba não abordando questões políticas e sociais com maior complexidade. Há momentos encantadores, como a ida da família ao cinema para assistir ao musical infantil O Calhambeque Mágico (1968) e o idílio de Buddy com uma coleguinha católica de classe, mas, no todo, o filme resulta adocicado e estetizado demais.
O grande destaque fica mesmo por conta do elenco, impecável, que venceu o Critics’ Coice Awards. Os veteranos Ciaran Hinds e Judi Dench, indicados ao Oscar de melhor ator e atriz coadjuvantes, brilham como os avós do jovem protagonista. A trilha sonora, com várias canções do cantor e compositor Van Morrison, nativo de Belfast, é outra atração à parte.
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