O ano de 1994 foi excelente para o cinema australiano. Foi nesse ano que o país nos entregou duas comédias cult que permanecem muito queridas até hoje. O primeiro filme é Priscila, A Rainha do Deserto, dirigido por Stephan Elliott. O outro é o adorável O Casamento de Muriel, obra assinada por P. J. Hogan e protagonizada pela atriz australiana Toni Collette.
Trinta anos do seu lançamento, O Casamento de Muriel segue como um filme leve e que, por isso mesmo, consegue ser realmente tocante principalmente pela construção de sua personagem principal. Muriel é um dos quatro filhos inúteis e encostados de um político corrupto e vaidoso (vivido pelo ator Bill Hunter, que também faz um papel importante em Priscila) em Porpoise Spit, cidade pequena da Austrália.
Levando uma vida miserável, Muriel só tem duas coisas na sua vida: o amor pelo Abba e o sonho de um dia se casar. Mas isso parece muito improvável de acontecer. Logo na primeira cena, ela está no casamento de uma de suas “amigas” esnobes e pega o buquê quando a noiva o atira. As outras moças a obrigam a devolver, pois ela, obviamente, nunca encontrará um par.
Desde o seu lançamento, O Casamento de Muriel tem conquistado muitos fãs por conta de sua narrativa agridoce que percorre uma linha tênue entre o drama e a comédia. O filme é o tempo todo muito engraçado, mas também profundamente triste.
Uma Cinderela às avessas
Acontece que, diferente dos seus irmãos extremamente passivos, Muriel tem ambições maiores. Cansada de ser rejeitada por todos, ela resolve mudar de vida quando reencontra uma colega da escola chamada Rhonda (vivida por Rachel Griffiths, de Six Feet Under), uma mulher animada e sexualmente livre, e que parece ver a amiga com olhos generosos. Muriel, afinal, é corajosa – pouco importa que use meios ilegais para conseguir o que quer (ela rouba dinheiro do pai).
Trinta anos depois de seu lançamento, O Casamento de Muriel segue sendo revisto e analisada e, em várias óticas, apontado como um filme feminista.
A partir daí, o longa australiano passa a ser um filme sobre a força da amizade. Ambas se mudam para Sydney, onde dividem um apartamento e leva vida mais leve e próxima daquilo que desejam. O que vai tornando O Casamento de Muriel especial são as várias cenas icônicas, como quando Muriel (que resolve se tornar Mariel) diz para Rhonda: “desde que te conheci e me mudei para Sydney, minha vida é tão boa quanto uma música do Abba – tão boa quanto ‘Dancing Queen'”. Sua ingenuidade e simplicidade chegam a ser comoventes.
Só que Muriel, para o bem e para o mal, foi forjada em uma única ideia de sucesso, que se equivale a se casar com alguém, e importa pouco quem seja. É esse sonho que a encaminhará para a sua jornada de herói e, por fim, para a sua redenção.

Trinta anos depois de seu lançamento, O Casamento de Muriel segue sendo analisado e, em várias óticas, apontado como um filme feminista, embora essa discussão praticamente não existisse na época. É possível chamar de feminista uma história em que uma mulher tem apenas o sonho de se casar?
Em minha leitura, ele pode ser categorizado assim, já que, no fundo, a tônica do filme é mostrar o quanto as mulheres podem ser fortalecer por si mesmas, com o apoio de suas amigas – e que isso pode ser mais precioso que muitas relações amorosas. Com uma protagonista memorável e atores secundários brilhantemente escalados (preste atenção na irmã debochada de Muriel), O Casamento de Muriel segue encantando três décadas depois.
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