O diretor Francis Ford Coppola é nome mais que consagrado na história do cinema. É difícil pensar no cineasta e não associá-lo diretamente a clássicos de enorme magnitude como a trilogia O Poderoso Chefão, Apocalypse Now e A Conversação. Quando falamos de obras tão emblemáticos de Coppola, muitas vezes esquecemos de filmes que ficaram lá no começo da carreira do diretor, mas que têm muito a acrescentar para os dias de hoje. Demência 13, de 1963, é o exemplo perfeito disso.
Escrito e dirigido por Francis Ford Coppola (na época apenas Francis Coppola), a narrativa parte de Louise Haloran (Luana Anders), esposa de John Haloran (Peter Read), que ao ver o marido repentinamente infartar e morrer em sua frente em um barco a remo, rapidamente joga o corpo de John na água. Entretanto, para poder fazer parte do testamento da mãe de seu esposo, Louise se passa por John em um telegrama endereçado à mãe do morto, dizendo que está em uma viagem de negócios e não poderá participar da cerimônia anual de homenagem à sua irmã Kathleen, falecida ainda criança. Mesmo assim, o telegrama afirma que Louise deve ser convidada.
Chegando ao imponente Castelo Haloran, Louise se depara com a estranha família de seu marido, na qual seus irmãos, Richard (William Campbell) e Billy (Bart Patton), juntamente com sua mãe Lady Haloran (Eithne Dunne), vivem uma tensa relação e realizam bizarras práticas fúnebres para Kathleen.
Demência 13 pode não ser o filme mais célebre de Francis Ford Coppola, mas certamente permitiu que seu diretor experimentasse e utilizasse técnicas narrativas que o tornariam em quem é hoje.
O cineasta desenvolve o medo e a tensão do filme de diversas formas. Da mais simples, como planos muito próximos e uma profundidade de campo extremamente reduzida, à mais complexa, utilizando a própria natureza sombria e misteriosa dos membros da família Haloran para evocar uma atmosfera de perigo e ameaça, mesma lógica que posteriormente daria a seus personagens mais emblemáticos, como Vito Corleone (O Poderoso Chefão) e capitão Willard (Apocalypse Now).
Além de ser uma subversão do gênero à época -muito se via pessoas inicialmente felizes e inocentes até que fossem dominados por alguma entidade-, a obscuridade natural dos personagens promove um afastamento entre a família Haloran, distanciando suas relações e criando um ambiente propício para a consolidação do medo e do horror. A título de referência, essa lógica ressoa diretamente na forma como Hereditário, um dos filmes de horror mais enaltecidos da atualidade, constrói sua tensão.
Coppola também é extremamente criativo ao encontrar soluções eficazes para compensar o baixo orçamento que tinha – o filme foi realizado com U$ 42.000, dinheiro sobressalente da produção de The Young Racers, de Roger Corman -, ao passo que atribui forte significado a objetos de morbidez inerente, como esculturas e bonecas, peças que, no contexto da narrativa, funcionam como elo de ligação entre os vivos e os mortos. Não tão somente, cada personagem apresenta um nível e um motivo diferente de perturbação e tormenta -demência, como o filme opta por chamar-, criando um intenso tom de terror psicológico, que potencializado pela rústica montagem de Stuart O’Brien e Morton Tubor, inevitavelmente aterroriza o espectador.
Demência 13 pode não ser o filme mais célebre de Francis Ford Coppola, mas certamente permitiu que seu diretor experimentasse e utilizasse técnicas narrativas que o tornariam em quem é hoje. O longa de 1963 já apresentava características bastante modernas como força de personagens femininos, e, mesmo com o gênero de horror tendo se desenvolvido de forma exponencial – a própria década de 1960 trouxe filmes emblemáticos como O Bebê de Rosemary e Psicose-, o filme de Coppola ainda pode ser amplamente debatido, inclusive a ponto de ter recebido um remake em 2017.
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