O diretor Zach Braff, que ganhou fama atuando no seriado televisivo Scrubs, lançou-se na direção de longas-metragens em 2005 com o intimista Hora de Voltar. Um filme independente, bem arranjado e, até certo ponto, autoral. Como dizem por aí, um típico exemplar de Sundance, festival norte-americano afeito a obras menos pirotécnicas e com algum conteúdo. Já nesse Despedida em Grande Estilo, o diretor faz uma reviravolta na carreira e aposta em um thriller de comédia recheado de clichês e nomes de peso no elenco.
No enredo, três amigos idosos e sem dinheiro resolvem assaltar um banco. Assim como no arrasador e trágico Eu, Daniel Blake (direção do inglês Ken Loach), o longa está antenado com os resultados das crises econômicas recentes, focando na falta de seguridade social para aqueles que não juntaram milhões por conta própria. Em Despedida em Grande Estilo, esses amigos são aposentados que veem suas aposentadorias serem repentinamente cortadas, graças a uma jogada financeira do fundo de pensão. Revoltados, resolvem sacar com armas em punho o dinheiro que o banco lhes deve.
O longa está antenado com os resultados das crises econômicas recentes, focando na falta de seguridade social para aqueles que não juntaram milhões por conta própria.
Os contos de fada clássicos são histórias que, na sua maioria, resgatam moças indefesas da pobreza para alçá-las à condição de princesas. São oriundos de narrativas orais, que visavam passar de geração para geração ensinamentos sobre moral, virtudes e bravura. Despedida em Grande Estilo é como que uma reinterpretação pós-moderna desses contos. Assim como tantos outros filmes hollywoodianos, o que está em pauta é a lógica liberal, a mesma que professa ser o indivíduo o responsável único pelo seu próprio bem-estar. Desse modo, não há príncipes que venham resgatá-los ou qualquer outro tipo de redenção mágica. É um discurso muito próximo de outra recente obra norte-americana, A Qualquer Custo, de David Mackenzie, que também envolve assalto a bancos por questões de direitos morais e, claro, o uso de armas.
O filme de Zach Braff aposta em estrelas consagradas para contar sua história. Estão no elenco Michael Caine, Morgan Freeman e Alan Arkin, atores para lá de renomados e que corroboram com uma enorme empatia junto ao público. Se o filme não acrescenta em muito por causa do emaranhado de clichês que seu roteiro apresenta, ao menos o trio de atores nos dá um rescaldo cômico, com direito a sorrisos no lugar de gargalhadas.
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