O filme Dois Dias, Uma Noite, dos irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne, é, além de ótimo cinema, uma poderosa lição de humanidade. Conta a história da operária Sandra (Marion Cotillard, excepcional, indicada ao Oscar de melhor atriz), que empreende uma luta hesitante para manter seu emprego numa pequena fábrica. Busca convencer seus companheiros de trabalho a votar a favor de sua permanência na empresa. Mas o chefe direto da equipe joga contra ela: caso decidam ficar do lado de Sandra, perderão um bônus salarial de mil euros. Se quiser continuar trabalhando, ela terá de convencê-los, ao longo do fim de semana, a abrir mão do abono.
O cinema dos diretores dos premiados Rosetta e A Criança, é político, mas jamais panfletário, doutrinário. Seus filmes, que em certa medida ecoam na contemporaneidade a ética e a estética do neorrealismo italiano, são obras de profunda observação social.
Essa “via-crúcis” a qual ela se submete, batendo de porta em porta, se expondo a inevitáveis humilhações, mas também a demonstrações de compaixão, funciona como um rito de autorresgate da personagem, que retornou ao trabalho depois de uma crise depressiva. Em discussão, temas como solidariedade, democracia e individualismo, em uma sociedade assombrada pelo fantasma do desemprego, pela tensão entre belgas nativos e imigrantes que buscam a sobrevivência em terra estrangeira.
O cinema dos diretores dos premiados Rosetta e A Criança (ambos vencedores da Palma de Ouro no Festival de Cannes), é político, mas jamais panfletário, doutrinário. Seus filmes, que em certa medida ecoam na contemporaneidade a ética e a estética do neorrealismo italiano, são obras de profunda observação social. Diretos, aparentemente simples até, na superfície, se analisados mais de perto, revelam uma construção minuciosa, que vai da trama, cheia de entrelinhas, até os personagens, como Sandra, contraditórios, vulneráveis, mas poderosos em sua complexidade.
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