O diretor franco-canadense Jean-Marc Vallée, revelado em 2005 pela ótima comédia dramática C.R.A.Z.Y. – Loucos de Amor, realizada em seu país, tornou-se, nos dois últimos anos, o queridinho dos atores em Hollywood.
Em 2013, O Clube de Compras Dallas, um pequeno filme independente foi um sucesso inesperado de bilheteria e venceu três Oscar, incluindo melhor ator (Matthew McConaughey) e ator coadjuvante (Jared Leto). Um ano mais tarde, ele acerta de novo a mão com um drama baseado em fatos reais, escorado em personagens fortes, limítrofes: Livre, que colocou no páreo dos prêmios da Academia Reese Witherspoon e Laura Dern, respectivamente nos páreos de melhor atriz e coadjuvante.
Com roteiro do escritor britânico Nick Hornby (autor de Alta Fidelidade), Livre é uma espécie de versão feminina, não trágica e menos transcendente, de Na Natureza Selvagem, filmaço dirigido por Sean Penn. Reese Witherspoon, cuja carreira estava no limbo desde que venceu o Oscar por Johnny & June, faz um retorno e tanto no papel de Cheryl, uma jovem cuja vida sai dos trilhos depois da morte prematura da mãe, vivida em flashbacks pela excelente Laura Dern (de Coração Selvagem, clássico de David Lynch).
Livre poderia ter resultado em uma obra careta, edificante e previsível, mas a personagem, hoje escritora e jornalista, é abrasiva, ainda que também carismática.
A personagem cai em um círculo vicioso de sexo, drogas e escolhas desastrosas até tomar a decisão de fazer, a pé e com uma mochila gigantesca nas costas, uma trilha que se estende da fronteira com o México até o Canadá. É uma jornada de purificação e autoconhecimento.
Livre poderia ter resultado em uma obra careta, edificante e previsível, mas a personagem, hoje escritora e jornalista, é abrasiva, ainda que também carismática. Vallée, cuja filmografia tem sido dedicada até agora a personagens marginais, fora da curva, faz um filme envolvente, capaz de conduzir o espectador pela aventura libertária da protagonista, que ganha solidez graças ao bom roteiro de Hornby. O escritor inglês costura habilmente presente e passado, dando tridimensionalidade a Cheryl e sua mãe, Bobbi, e escapando da previsibilidade.
O filme, assim como O Clube Compras Dallas, não é cinema de invenção, e talvez não tenha grande permanência, ao contrário de C.R.A.Z.Y. – Loucos de Amor, um projeto bem mais pessoal de Vallée, mas é sólido e emocionante.
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