Costuma-se dizer que, em muitas circunstâncias, “menos é mais”, sobretudo no campo estético. Há uma concepção latente de que é bem mais fácil pecar pelo excesso do que pela falta. No caso específico de Machete Mata (2013), do diretor Robert Rodriguez, isso não procede. Quanto maior a quantidade de exageros, melhor fica o filme, justamente porque essa é a essência da proposta.
Machete Mata é a continuação de Machete, também dirigido por Rodriguez e lançado em 2010. Repleta de detalhes, a trama basicamente enfoca o marcante personagem-título, interpretado por Danny Trejo, em uma missão especial para o presidente dos Estados Unidos (Charlie Sheen, que neste filme usa o nome de batismo, Carlos Estévez). Machete é chamado a matar o revolucionário mexicano Marcos Mendez (Demian Bichir), que tem um míssil apontado para Washington e pretende lançá-lo se os Estados Unidos não invadirem o México para acabar com os cartéis e a violência que eles espalham por lá. O presidente estadunidense diz que não morderá a isca.
Assim como as balas, ironias são atiradas em múltiplas direções.
Pronto. Está tecida a base para uma história repleta de tiroteios, lutas, decapitações e amputações e, claro, muito sarcasmo. Exatamente como as balas, as ironias são atiradas em múltiplas direções. Sobra para o presidente dos Estados Unidos, sobra para a corrupção em território mexicano, sobra para a fixação da sociedade estadunidense pela indústria de armas e pela identificação clara de um inimigo. Tudo isso é trabalhado com um elenco que conta, também, com nomes como Antonio Banderas, Mel Gibson, Michelle Rodriguez, Cuba Gooding Jr. e até Lady Gaga. Ela “ataca” de atriz e tem tudo a ver com este projeto do cineasta.
Estruturado sobre o contexto da fronteira entre Estados Unidos e México, Machete Mata abre espaço para falar de imigração ilegal. Ele expõe, ainda, uma brincadeira com o próprio fazer cinematográfico. Os efeitos são tão toscos e as soluções para os conflitos tão absurdas que é difícil não sorrir e tomar consciência de que se está diante de um filme.
Enquanto muitas produções cinematográficas investem pesado em recursos capazes de despertar a tal “suspensão da descrença” do espectador, aquele pacto que quem assiste faz com quem elabora um filme para deixar de lado o racional e embarcar na fantasia, Machete Mata vai sem qualquer medo e sem qualquer pudor na direção completamente oposta. É um filme que em nenhum momento se leva a sério ou pretende ser levado a sério. Se o leitor assistir considerando isso, chegará ao fim avaliando que a “viagem” valeu a pena.
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