O título original do drama britânico Memórias de um Amor, disponível na plataforma de streaming Prime Video, é Supernova. Refere-se ao corpo celeste que tem origem após a explosão de uma estrela, que, de certa maneira, morre para renascer sob outra forma. É uma bela e tocante metáfora para falar sobre o tema central do filme: a finitude.
Na trama, o pianista Sam (Colin Firth, de O Discurso do Rei) e o escritor Tusker (Stanley Tucci, de O Diabo Veste Prada) formam um casal que está junto há décadas. Na casa dos 60 anos, eles enfrentam um momento muito difícil. Tusker, norte-americano, tem Alzheimer e os sintomas da doença começam a se agravar: os lapsos de memória se tornam cada vez mais frequentes e ele, muito rapidamente, está perdendo a autonomia.
Memórias de um Amor é, em grande parte, um road movie, gênero cinematográfico no qual a estrada costuma representar bem mais do que uma viagem. Em geral, trata-se de uma jornada existencial ao longo da qual os personagens fazem mais do que um deslocamento geográfico.
Memórias de um Amor é, em grande parte, um road movie, gênero cinematográfico no qual a estrada costuma representar bem mais do que uma viagem.
No filme, o casal viaja em um motorhome pelo interior da Inglaterra, rumo à região e à casa onde Sam cresceu. A viagem parece ter o propósito de reconexão com o passado e resgate de lembranças caras aos dois. Além de encontrarem com familiares e amigos, o pianista também realizará um recital. Mas vai além disso.
Sem resvalar no melodrama, o filme aposta na contenção. Por meio de diálogos muito bem escritos, ao longo da viagem, vamos conhecendo os dois lados dessa história amor e do momento que os personagens estão vivendo.
De um lado, Sam está super preocupado e cheio de cuidados com seu companheiro. De outro, Tusker, que tem perfeita noção da gravidade de seu estado, vai revelando seu temor de se tornar um peso, um estorvo.
Como Firth e Tucci são grandes atores e o roteiro, assinado pelo também diretor Harry MacQueen (de Hinterland), é construído em torno dos dois personagens, de seu amor e da dor que agora enfrentam, nós, espectadores, nos tornamos cúmplices dessa intimidade extrema. Não é fácil, mas, em vários momentos, é um privilégio.
Antes de deixar de ser quem ele é, e perder sua dignidade, Tusker, que se compara a uma supernova, às vésperas da explosão, reclama para si o direito de decidir seu próprio destino, e a hora de dizer adeus. É uma discussão complexa, porque envolve Sam, que lhe dedicou toda uma existência e não se diz preparado para ficar só. Por isso, Memórias de um Amor é um daqueles filmes para se ver, refletir e falar a respeito.
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