O cineasta norte-americano Wes Anderson, desde seu longa-metragem de estreia, Pura Adrenalina (1996), e, sobretudo, a partir de seu filme seguinte, Três É Demais (1998), vem construindo uma obra com uma unidade singular. Repleto de idiossincrasias, que podem ser interpretadas pelos mais apressados como maneirismos de estilo, seus filmes também revelam, título a título, a imaginação de um singular contador de histórias, todas povoadas por personagens excêntricos e marginais. Mergulhados em ambientes cuidadosamente criados segundo a imaginação do cineasta, em cuja filmografia a forma tem força de conteúdo, de assertiva.
Da direção de arte à trilha sonora, passando pelos figurinos e pela própria escolha dos atores, os trabalhos de Anderson se remetem a um autor que dialoga com a cultura norte-americana de maneira intensa, a questionando e criticando, mas sempre a assumindo como identidade, de sua vertente mais pop para a mais, digamos, elitizada.
Há em seus filmes, sobretudo em Os Excêntricos Tenenbaums (2001), um evidente diálogo criativo com a obra do escritor J. D. Salinger, autor de clássicos contemporâneos como O Apanhador no Campo de Centeio e Franny & Zooey, nos quais o desassossego existencial tem papel central, assim como no cinema de Anderson.
A trama se passa em meados da década de 1960, em uma pequena ilha localizada na costa da Nova Inglaterra.
Essa proposta de forjar um universo todo próprio atinge um ponto alto com a deliciosa comédia dramática Moonrise Kingdom (2012). A trama se passa em meados da década de 1960, em uma pequena ilha localizada na costa da Nova Inglaterra.
No início da adolescência, Sam (Jared Gilman), um garoto órfão que vive trocando de família adotiva em decorrência de problemas de adaptação, e Suzy (Kara Hayward), uma menina sensível que adora ler mas não gosta muito de pessoas, sentem-se deslocados, verdadeiros peixes fora d’água. E se apaixonam.
Depois de se conhecerem, por acaso, em uma peça teatral sobre a Arca de Noé na qual Suzy atua, o casal passa a se corresponder com regularidade. Até o dia em que decidem fugir juntos. Para desespero dos pais de Suzy (Bill Murray e Frances McDormand) e do escoteiro-chefe, Ward (Edward Norton), que supervisiona o grupo do qual Sam faz parte e com o qual está instalado em um acampamento na ilha.
Embora altamente estetizado – todos os planos do filme parecem ter sido cuidadosamente pensados, desenhados –, Moonrise Kingdom incorpora essa preocupação com a forma, a utilizando a favor de uma história muito bem construída. E repleta de humanidade. Os personagens escapam aos arquétipos e provocam empatia em uma trama rocambolesca que resulta envolvente. E, por fim, encantadora.
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